Como cuidar da Democracia?

O nosso país assinala, brevemente, o 44.º aniversário do 25 de Abril, data em que Portugal saiu de uma ditadura de quase 50 anos e iniciou o caminho da democracia. Mas, o que é uma democracia? E porque está este conceito tão ligado ao de liberdade? São estas conquistas eternas? 

 

Parar ouvir e perguntar

A democracia é o sistema político em que todos os cidadãos participam, diretamente ou através de representantes eleitos, nos destinos do seu país. Um país que escolhe os seus governantes e o seu Parlamento através de eleições, e no qual toda a gente – maior de idade e capaz – pode votar é uma democracia, e, portanto, livre. Certo? Bom, não é assim tão simples. Democracia implica liberdade para escolher os líderes do país, mas liberdade implica paz, segurança, o respeito por todos e pela diferença. Já prestaste atenção em alguns discursos de alguns políticos europeus? Não te parece que vários são tão populistas que podem ser a semente para algo perigoso? Já te questionaste sobre isso?

 

 O que assimilamos e o que damos 

Importará, portanto, começar pelas narrativas, por prestar atenção aos discursos dos políticos e de pessoas com lugares de destaque na sociedade. Importa informarmo-nos e questionar. Depois, virar a atenção para o bem-estar de todos. Por exemplo, a divisão de poderes, para evitar abusos, é uma realidade? E como está o nível de desigualdade na distribuição da riqueza? Uma democracia é sólida quando a distância entre os muitos ricos e os muito pobres é pequena; quando a classe média é forte, educada e capaz de competir. Quando muito, assimilamos e muito damos.

 

 O medo e a propaganda 

Vamos começar por um exemplo recente. A 8 de abril, na Hungria, foi reeleito como primeiro-ministro Viktor Orbán, com 49,9 % dos votos. Aparentemente, foi eleito democraticamente, mas isto assegura a democracia? Orbán apresenta-se como um defensor dos interesses da Hungria em primeiro lugar, com reservas em relação à imigração, sobretudo contra os muçulmanos. Ele defende uma Hungria apenas cristã. Chegou a afirmar que “se queremos uma Hungria húngara e uma Europa europeia (…), então temos de querer uma Hungria cristã e uma Europa cristã, em vez do que nos ameaça agora com uma população mista e sem sentido de identidade”. Para Orbán, o que é diferente é sinónimo de ameaça. Importa questionar se este discurso é compatível com liberdade. Entretanto, por lá há jornais a fecharem as portas, sobretudo os mais ligados à Oposição.

 

 O medo e o nacionalismo 

Por toda a Europa crescem estes discursos populistas e o apoio aos que revelam repulsa em relação à religião e aos valores dos outros. Na França, por exemplo, aumentam os simpatizantes de um partido chamado Frente Nacional. Mas porque será? Será porque é incutido no cidadão comum o medo de que os outros, os estrangeiros, vão impor-se e dominar-nos? Estas narrativas podem ser a semente do nacionalismo, uma ideologia que defende todos os direitos para os cidadãos do país e muito menos para os cidadãos imigrantes e filhos destes, mesmo que já nascidos no país. É quando o imigrante, ou alguém com outros valores culturais, é visto como aquele que contamina a nossa cultura e leva os nossos empregos. Já ouviste falar de Hitler e do extermínio de milhões de judeus? Foi assim que começou…

 

 Resistir ao medo e não esquecer a História 

Como, então, preservar a democracia? Estando informados sobre o que se passa no Mundo, ler e pensar sobre o que se lê, ouvindo muitas opiniões e questionando tudo. Os meios de Comunicação (não consumas apenas os do teu país) podem dar uma ajuda preciosa. Não nos deixarmos intimidar com o discurso do medo é fundamental. E não vermos o outro, aquele que vem de fora, como um inimigo. Os imigrantes não tiram os nossos empregos, contribuem para a economia. Normalmente, o discurso anti-imigração tem como objetivo desviar as atenções daquilo que realmente importa. E importa saber, por exemplo, qual é o nível das desigualdades sociais no país; e se maioria das pessoas consegue ter uma vida digna. Cuidamos da democracia, se nos prepararmos para escolher governantes que não fomentem a divisão.

 

Leonor Paiva Watson