Já imaginaste? A mesa posta, o pai serve-te e a tua cara abre-se de espanto. “O quê? Hoje há grilos para o jantar!?” Comer insetos faz parte do cardápio de vários países do Mundo. E essa realidade está a passos largos a avançar para Portugal.
Larvas, gafanhotos e grilos. Todos estes bichos e outros insetos vão bem com arroz ou massa ou batata frita. Tudo frito numa sertã. Há bancas na rua com esta gastronomia à venda. Não é aqui. É na Tailândia. Em países da Ásia é comum comer-se os bicharocos que nós por cá ganhamos o costume de calcar a cada passo na rua: formigas, aranhas, etc.
Mas há já uma legislação em curso, avançada pela União Europeia, que enquadra este segmento agroalimentar. O que é que isto significa? Que, mais ano menos ano, podemos ter na banca dos supermercados insetos à venda para consumo.
O TAG conversou com Rui Rosa Dias, professor no IPAM – Instituto Português de Administração de Marketing e especialista em agroalimentar, que defende que, “pelo menos numa fase inicial”, haverá “dificuldade em adotar como padrão de consumo, no nosso país, a proteína proveniente de insetos”. Rui Rosa Dias é da opinião que “haverá uma ‘colisão’ cultural gastronómica pacífica”, e acredita que, “se houver uma base informativa forte sobre os benefícios de tal dieta, o processo de introdução deste tipo de alimentação em determinados mercados europeus pode ser mais rápido do que em Portugal”.
Comer insetos é bom para o ambiente
O professor estima que o impacto no meio ambiente (ou seja, medindo apenas o efeito direto no ambiente e não tanto o efeito social) seja “mais compensador”. No entanto, alerta, “a questão coloca-se em onde se vão produzir os insetos? Em que condições? O meio ambiente que nos rodeia, por exemplo, em Portugal, é propício a estas produções? Como estimar os efeitos a longo prazo?”.
Alimentação saudável
Até prova em contrário, o que se sabe é que em países onde este tipo de alimentação faz parte do dia-a-dia, as pessoas que o praticam são saudáveis. Mas a saúde pelos alimentos é apenas uma parte, talvez a mais importante mas não a única, de um estilo de vida mais ou menos saudável. Rui Rosa Dias levanta outra dúvida: “E se nos questionarmos sobre os porquês e os comos de existirem consumidores a comer carne de cão, baleia, crocodilo, cobra, veado e cavalo noutras geografias?”.
Mas a hipótese de mudarmos de hábitos alimentares pode trazer outras questões. O investigador aponta como efeito desconhecido a “perda de identidade cultural”, além do “desconhecimento dos efeitos em alargar a produção de insetos a uma grande escala e dos ajustamentos nutricionais que terão necessariamente de se fazer”. Se algum dia a produção de insetos chegar a Portugal, será através da reprodução por alta genética, o que poderá vir a ser um bom negócio, na opinião de Rui Rosa Dias.
Texto: Joana M. Soares