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Alternar as matérias ajuda-te a aprender

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Estudar o mesmo exercício vezes e vezes sem conta por um longo período de tempo não é a melhor forma de estudar. Tão depressa se memoriza como se esquece. Mas há uma estratégia mais eficaz: já ouviste falar na prática intercalada?

Tal como o nome sugere, a prática intercalada “consiste no estudo alternado de matérias diferentes mas relacionadas entre si dentro da mesma disciplina”, explica Célia Oliveira, psicóloga e professora na Universidade Lusófona do Porto. “É uma estratégia que deve ser utilizada quando os alunos estão na fase de estudo contínuo ou a fazer os trabalhos de casa”, acrescenta, pois “requer tempo para produzir efeitos”.

 

Como funciona?

 

Célia Oliveira diz que a Matemática é “uma das disciplinas em que a prática intercalada tem sido mais estudada e que mostra resultados consistentes e transversais a todos os níveis de escolaridade e níveis de desempenho dos alunos”. Os manuais de exercícios de Matemática “não têm isto em conta e seria útil que tivessem”.

Por exemplo, “se estamos a estudar diferentes fórmulas, o ideal será organizarmos os exercícios de modo a intercalar a aplicação das várias fórmulas”, como soma, subtração, soma, multiplicação, soma, etc., em vez de repetir exercícios de soma de forma persistente e prolongada no tempo, a chamada prática em bloco. “Se estamos a estudar tempos verbais numa língua estrangeira, é útil intercalarmos exercícios de dois tempos verbais diferentes”, prossegue a investigadora. E isto aplica-se também “na prática de um desporto ou de um instrumento musical” levando as crianças a executar “melhor e durante mais tempo”.

 

Falsa ilusão de conhecimento

 

“Os alunos tendem a percecionar esta estratégia como mais exigente e como estando a evoluir mais lentamente na aprendizagem”, refere a psicóloga, “porque esta alternância obriga a uma maior exigência na realização das tarefas”. Mas é precisamente isso “que obriga a um esforço cognitivo maior e a um envolvimento atencional maior na tarefa que produz aprendizagens mais sólidas e mais duradouras” e “promove o raciocínio indutivo”.

Pelo contrário, a prática em bloco, através da repetição, causa “monotonia” e “diminuição atencional à tarefa”, produzindo “uma sensação de fluência e de familiaridade que nos dá uma perceção de segurança face aquele conhecimento”, mas origina uma “aprendizagem mais superficial e quando há uma pequena variação no exercício não se consegue aplicar a fórmula num outro problema.” Por isso é que estudar de véspera “produz um tipo de aprendizagem muito temporária e os alunos têm a sensação depois do teste de que já não sabem nada”.

 

Outras disciplinas e o digital

 

Célia Oliveira diz que “não há muita evidência científica” sobre a prática intercalada entre diferentes disciplinas, mas é de “evitar estudar material passível de provocar interferência”. Ou seja, “não é recomendável estudar duas línguas estrangeiras consecutivamente” porque “aquilo que acabamos de estudar no Inglês pode interferir com o que estamos a estudar no Francês” e criar confusão. O ideal será organizarmos o estudo com disciplinas bastantes diferentes entre si: uma língua, Matemática, História.

Já sobre a alternância entre estudo analógico e digital, a psicóloga e colaboradora do projeto ED_ON de informação online sobre educação considera que “a maior parte das tecnologias educativas foram desenvolvidas mais focadas no aspeto lúdico, atrativo e da utilização e não tanto naquilo que são os princípios da aprendizagem”. Mas ler o manual, fazer um exercício em papel e depois ver um vídeo sobre a matéria de estudo “não é mau, o que é importante é que o aluno se mantenha na tarefa” e não se perca no “potencial distrator desses meios”.

Texto: Sandra Alves
Foto: Rodrigo Cabrita/Global Imagens