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As polémicas e extravagâncias do Mundial mais caro da História

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O Mundial de futebol do Catar arranca dia 20 de novembro às 16 horas (hora de Portugal continental) com um jogo entre a seleção anfitriã e o Equador. A organização do evento neste emirado árabe levantou muitas questões. As suspeitas de corrupção, as altas temperaturas e a exploração laboral são só alguns dos problemas.

Foto: Karim Jaafar / AFP

Estamos em contagem decrescente para o Mundial mais caro e, provavelmente, dos mais polémicos da História. Com o aproximar do arranque oficial da competição, adensa-se o clima de suspeita e revolta sobre os bastidores do evento que custou 225 mil milhões de euros. Desde que em dezembro de 2010 a FIFA atribuiu ao emirado árabe do Catar a organização do Campeonato do Mundo de 2022 que têm surgido questões em torno dessa decisão. As suspeitas de corrupção, os estádios, as altas temperaturas e os problemas de exploração laboral estão na ordem do dia.

 

A tão falada corrupção

O Catar é uma pequena península no Golfo Pérsico, um território um pouco maior que a região portuguesa do Baixo Alentejo. Contudo, ali existem abundantes receitas devido ao petróleo e ao gás natural, do qual tem a terceira maior reserva mundial. A influência do dinheiro deste emirado tem crescido em vários setores de atividade no Mundo, nomeadamente no futebol onde têm uma posição dominante no Paris Saint-Germain, são patrocinadores do Barcelona e conquistaram uma grande influência nos centros de decisão, sobretudo na FIFA. O ponto alto de afirmação do Catar na indústria futebolística foi quando a 2 de dezembro de 2010 foi escolhido como organizador do Mundial 2022, para espanto de muita gente.

 

O que se passa com a construção de estádios e hotéis?

Várias organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram ao longo dos anos violações sistemáticas nas condições dos migrantes que chegam ao Catar para a construção civil nos estádios. No Catar há o chamado sistema Kalafa, em que os trabalhadores ficam dependentes de um “patrocinador”, o que implica, por exemplo, não terem autonomia para mudar de emprego ou deixar o país. Segundo a organização, a construção dos estádios mobilizou cerca de 30 mil trabalhadores para obras como estádios, hotéis e estradas ou outras infraestruturas.

Ao longo dos últimos anos foram surgindo cada vez mais denúncias de violações de direitos de trabalhadores sujeitos a trabalhos forçados, a viver em condições precárias, a trabalhar em condições climatéricas extremas, sem limitação de horário, sem direito a descanso e muitos não têm recebido salários. Estas condições conduziram muitos à morte.

Foto: Gabriel Bouys / AFP

 

Quantos já morreram?

O jornal inglês “The Guardian” fez contas. Com base em dados recolhidos junto dos governos da Índia, Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Paquistão (os países com mais emigrantes no Catar), já terão ocorrido, pelo menos, 6500 mortes de trabalhadores nestes últimos dez anos devido à falta de condições de trabalho. Um estudo da Organização Mundial do Trabalho concluiu que, só em 2020, morreram 50 trabalhadores no Catar, registando ainda 500 feridos graves e 37 600 que sofreram ferimentos leves.

 

O que vai acontecer aos estádios depois do Mundial?

Num país com poucas tradições futebolísticas e uma seleção nacional que não dá cartas no plano competitivo, a questão que se coloca é o que irá acontecer aos sete novos estádios construídos de raiz? A organização esclareceu que os recintos foram construídos com recurso a estruturas modelares, sendo por isso desmontáveis. Um dos casos curiosos é no estádio Abu Abou em Doha, conhecido também por Estádio 974 por ter sido construído com recurso a 974 contentores de aço reciclado. Será o primeiro totalmente desmontável na história dos Campeonatos do Mundo de futebol.

 

Vozes internacionais contra a prova no Catar?

O antigo jogador Cantona lamentou que, não tendo o Catar a paixão pelo futebol, a competição seja neste país. Depois considerou “uma aberração ecológica” a questão dos ares condicionados. Recorde-se que os estádios são fechados e tendo o Catar um clima tão quente, a organização decidiu colocar em todos enormes aparelhos para fazer face às altas temperaturas.

O selecionador alemão, Hansi Flick, diz que este não é um Mundial para os adeptos, fazendo menção a amigos que vão deixar de assistir à competição em jeito de protesto contra a organização.

Por seu turno, o ex-futebolista Phillipp Lham garante que prefere acompanhar o futebol em casa, questionando os critérios usados na escolha do Catar para acolher a competição. “Os direitos humanos deveriam ser a principal preocupação e não são”, rematou.

Texto: Joana M. Soares