Brexit. Agora é que é

O Reino Unido sai da União Europeia a 31 de janeiro. Mais de 231 mil portugueses já pediram o estatuto de residência e a emigração não perdeu força.

O Brexit vai mesmo acontecer. O acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE) é ratificado pelo Parlamento Europeu na quarta-feira, dia 29. Dois dias depois, aquele país deixa de ser membro da comunidade que une a Europa e deixa de ter representação no Parlamento Europeu.

Após o referendo de junho de 2016, em que a vontade da população de se desligar da UE ganhou, e depois de um processo bastante complexo, o Brexit segue o seu rumo. No imediato, pouco muda. O Reino Unido continua no mercado único e na união aduaneira até ao final do ano. Em 2021, com um acordo comercial com a Europa a ser negociado durante este ano, deverá haver alterações significativas em termos empresariais.

 

Transição e emigração

 

O período de transição do Brexit durará 11 meses, de fevereiro a dezembro deste ano. A situação dos estrangeiros residentes no país é um dos pontos mais sensíveis. Mais de 231 mil portugueses que moram no Reino Unido já pediram o estatuto de residência, uma das consequências do Brexit. Os que lá habitam há mais de cinco anos consecutivos têm direito ao estatuto de residente permanente. Os que estão há menos tempo ficam com um título provisório até perfazerem os cinco anos. No mês passado, quase 11 mil portugueses trataram deste processo.

Portugal continua a ser o país da UE com a mais elevada taxa de registos no Reino Unido, e o terceiro do Mundo. Com o Brexit no centro das atenções, o número de trabalhadores portugueses que emigraram para o Reino Unido aumentou 27% entre setembro de 2018 e setembro de 2019. Mais concretamente, partiram 23 570 portugueses. Há, porém, uma questão: se o Governo britânico apertar o cerco a quem entra no país, passando a controlar a entrada de imigrantes, como prometeu o primeiro-ministro, Boris Johnson, a emigração portuguesa poderá baixar.

 

Economia e acordo comercial

 

A economia é uma área crucial na vida de um país. Com o Brexit, é preciso fazer um acordo comercial que diga quais as regras a cumprir na relação empresarial entre o Reino Unido e o resto da Europa. Este acordo terá de ficar definido até ao final deste ano. A ausência de um acordo terá um impacto brutal sobretudo na economia do Reino Unido. O que está em cima da mesa é a criação de uma parceria inédita, o início de novas relações comerciais, e talvez um livre comércio com tarifas zero. Por outro lado, é provável que a UE exija o cumprimento das regras de preservação do ambiente, aprovadas entre todos os estados-membros, Reino Unido incluído.

As consequências desta saída, a primeira na história da UE, já se fazem sentir. Os números que se conhecem mostram que o Brexit já terá custado mais de 150 mil milhões de euros à economia do Reino Unido. Um valor que pode ultrapassar os 230 mil milhões até ao final de 2020.

 

Dados e factos

 

• O Reino Unido deixa de ter representação no Parlamento Europeu no fim deste mês. Os 73 eurodeputados britânicos abandonam os lugares em Bruxelas, para os quais foram eleitos no ano passado.

• Especialistas calculam que a economia britânica encolheu 3% depois de anunciado o divórcio com a União Europeia.

• Estima-se que morem cerca de 400 mil portugueses no Reino Unido.

• Cerca de 2,6 milhões de europeus que vivem em terras de sua majestade já pediram o estatuto de residência.

• O Reino Unido não deverá sair do Erasmus, o intercâmbio internacional de estudantes. Tudo indica que o país continuará a constar na lista de destinos depois do Brexit.

 

Texto: Sara Dias de Oliveira
Foto: Thomas Mukoya/Reuters