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Camões: Um homem e uma obra-prima universal a nunca esquecer

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No dia 10 de junho celebra-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. É feriado nacional e este ano é numa sexta-feira!

Então há um feriado nacional dedicado a um escritor?

Sim, nessa data assinala-se a sua morte em 1580 e Luís Vaz de Camões não foi um escritor qualquer. É considerado um génio da literatura, autor de poemas muito famosos e da maior obra épica de Portugal – Os Lusíadas – traduzida em várias línguas, lida, estudada e admirada mundialmente.

Para além disto tudo, Camões teve uma vida aventureira e trágica singular de que vamos agora conhecer um pouco.

Sem grandes certezas, diz-se que Luís Vaz de Camões nasceu em Lisboa. Viveu na época das grandes descobertas marítimas que tornaram Portugal e Lisboa o centro do mundo quinhentista. Foi aluno do colégio do convento de Santa Maria, tornando-se um profundo conhecedor de história, geografia e literatura. Sob a tutela de um tio da mãe, já jovem, vai estudar Filosofia e Teologia para Coimbra, mas tinha um génio irrequieto e desordeiro, metendo-se em confusões, duelos, o que lhe provocava alguns dissabores e inimigos. Rapaz de 20 anos, bonito e sedutor, o estudante despertou para a poesia e fazia suspirar as meninas casadoiras (e não só) com os seus versos inspirados e improvisados para cada ocasião, conquistando os corações femininos.

Ora vê como ele declama este belo poema a “Lianor”, uma donzela que vai à fonte, enquanto estudante (excerto do filme “Camões”, 1946, de José Leitão de Barros):

Depois, passa a frequentar a corte do rei D. João III e, devido ao seu ardor e génio poéticos, continua a incendiar corações, mas também a inspirar ódios e invejas. Brilhava em saraus e competições poéticas onde declamava os seus poemas e mostrava a sua enorme cultura, destacando-se de entre os intelectuais e artistas que ali se exibiam. A sua paixão pela dama Catarina de Ataíde não era muito bem vista na corte. É desse tempo um famoso soneto sobre o Amor.

Vê agora no mesmo filme uma referência sobre a sua vida onde podes perceber o contexto em que Camões, num sarau na corte, brilha declamando … “Sobre o Amor”:

Continua a envolver-se em rixas, sendo perseguido e até preso. Em 1547, embarcou como soldado para a África. Serviu dois anos em Ceuta. Combateu contra os mouros e acabou ferido, perdendo o olho direito, ganhando então aquela pala que surge nos seus retratos posteriores. Depois, desmoralizado, regressa à capital, onde torna a ter uma vida muito boémia (excessiva, com noitadas, bebedeiras…). Novo incidente, ferimento num funcionário do paço real, nova prisão. E é aí que começa a nascer a sua obra maior, Os Lusíadas.

Senhor de vastíssima cultura, Camões foi influenciado pela escola clássica que dominava a cultura na Europa e que ditava o respeito e imitação das obras dos antigos gregos e romanos. Tornou-se um estudioso das epopeias (narrativas em verso que contam a história grandiosa de heróis distintos) de Homero (sobre as aventuras dos heróis gregos, entre os quais Ulisses, a Ilíada e a Odisseia) e de Virgílio, que escreveu sobre as aventuras de Eneias, um herói que foge de Troia para fundar Roma, a Eneida). Junte-se o seu impressionante domínio sobre várias áreas do saber fruto de muitas leituras e das viagens que irá empreender e temos um génio preparado para escrever uma obra-prima.

Vivendo na época de ouro do Império Português, Camões sentia enorme orgulho na História de Portugal e no espírito corajoso e curioso dos nossos reis, navegadores e soldados que nos levaram a descobrir muitos mares e terras desconhecidos até então, a desenhar os mapas do mundo com as nossas descobertas e a tornar o nosso pequenino país um exemplo de “um saber de experiência feito” (in Os Lusíadas, canto IV). Então, decide escrever uma epopeia sobre as vitórias dos heróis portugueses (a gente lusa), partindo de uma história recente central: a 1ª viagem de Lisboa a Calecut, na Índia, da armada comandada por Vasco da Gama (1497-1498). Pelo meio, contam-se episódios sobre o passado glorioso que provam o valor luso e há deuses romanos a nosso favor e outros contra. Uma epopeia fantástica, dividida em 10 cantos que vais estudar na escola.

E assim, a escrita d’Os Lusíadas vai acompanhar a vida, cada vez mais infeliz e azarada do nosso poeta-soldado. Saiu da prisão e embarcou para o Oriente. Em Goa, Índia, participou em muitas missões militares. Em Macau foi provedor e escreveu alguns cantos do seu manuscrito numa gruta que ficou famosa.

Foto: Arquivo Global Imagens

De regresso à Índia, sofreu um naufrágio, conseguindo-se salvar a nado e protegendo o original da sua obra. Preso de novo, Camões resolveu regressar à pátria. Está pobre, destroçado e tem de esperar na Ilha de Moçambique que os amigos em Lisboa lhe mandem dinheiro. Alcança Lisboa e, terminada a escrita da sua preciosa obra, publica-a a muito custo em 1572.

Assim começa a 1ª parte:

A obra tem algum impacto, mas para conseguir sobreviver o nosso pobre escritor tem de ir ao Paço e ler os dez cantos d’Os Lusíadas ao rei D. Sebastião. Assim, conseguiu um apoio financeiro, mas morreu desgraçado e amargurado com a falta de reconhecimento do seu valor pelos compatriotas em 10 de junho de 1580.

Este nome maior da cultura portuguesa só teve o merecido reconhecimento muitos anos depois .

Foto: Gonçalo Villaverde/Arquivo Global Imagens

 

Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A fortuna mo traz peregrinando, (…)
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena.”
(Canto VII)

 

Outras obras de Luís Vaz de Camões:

· El-Rei Seleuco (1545), peça de teatro;
· Filodemo (1556), comédia de moralidade;
· Anfitriões (1587), comédia escrita em forma de auto;
· Rimas (1595), coletânea de sua obra lírica.

Texto: Maria José Pimentel