O carro do futuro não tem asas mas voa

O carro do futuro não tem asas mas voa

Portugal está cheio de estradas, as estradas estão cheias de viaturas e as viaturas ainda têm os depósitos cheios de combustíveis fósseis. Mas, num futuro que já se constrói, a tendência será adotar outros sistemas. Melhorar os veículos, o impacto no ambiente e a vida dos condutores são as metas.

 

 

O futuro da mobilidade já está à distância de poucos quilómetros e terá mais respeito pelo ambiente. No ano passado, em Portugal, as vendas de carros elétricos cresceram 148% em relação a 2017, apesar de ainda serem uma parte pequena entre os automóveis que existem no mercado nacional (só 1,8%), segundo dados divulgados na semana passada pela Associação do Comércio Automóvel de Portugal.

Emídio Faria, um engenheiro da empresa portuguesa Critical Techworks, que trabalha para o grupo alemão BMW, diz que este aumento é “um sinal de que as pessoas se estão a adaptar bem a esta corrente de mudança” e defende que “a tendência do mercado a médio prazo passa pela extinção dos motores de combustão nos países desenvolvidos”. Ao TAG, este engenheiro de software referiu que o motor elétrico será o substituto dos modelos atuais (a gasóleo e gasolina), através de uma “transição gradual mas quase inevitável”.

Apesar de a indústria automóvel ainda assentar nos motores de combustão, que emitem gases poluentes para a atmosfera, “as principais marcas de automóveis estão a investir no mercado dos carros elétricos” – e as regras europeias para as emissões de gases poluentes estão a ajudar a acelerar este processo.

 

Os Motores são cada vez mais limpos

Os motores diesel (isto é, a gasóleo) têm diminuído as emissões poluentes. Ou seja, agora são mais limpos. Porquê? “Nos tempos em que vivemos, a capacidade de engenharia e a otimização têm evoluído de uma forma impressionante, tanto a nível de emissões como a nível de performance dos motores.” Há 20 anos, para conseguir extrair potência de um carro a diesel, era necessária uma maior cilindrada do motor, o que levava, na maior parte dos casos, a um aumento dos gases poluentes, explica o engenheiro. Hoje, andar sobre rodas não custa tanto ao ambiente, até porque em algumas cidades europeias, como Londres, Paris e Bruxelas, já é “proibida a circulação de carros com emissões de gases poluentes acima de determinados níveis”, e nas horas em que o trânsito é maior.

Ainda assim, apesar de ser “muito satisfatória”, a evolução tecnológica dos motores a diesel e a gasolina em matéria de emissões “não consegue competir com um carro elétrico”.

 

Ministro abriu debate

A discussão sobre o fim do motor diesel voltou a acontecer depois de, na semana passada, o ministro do Ambiente ter dito que os veículos a gasóleo devem perder valor comercial “em quatro ou cinco anos”. O ministro João Matos Fernandes acrescentou ainda que “na próxima década não vai fazer sentido comprar um carro a gasóleo”, porque um elétrico já vai ter um preço parecido. Os representantes da indústria automóvel em Portugal reagiram mal às declarações do ministro. A Associação Nacional do Ramo Automóvel respondeu que a eletrificação dos automóveis está “em curso” e é “irreversível”, mas os motores de combustão não podem ser condenados ao “degredo”, pois agora estão “mais limpos que nunca”.

 

Carros voadores” no céu e autónomos nas estradas

A ideia de ver carros a voar como nos filmes de Harry Potter “talvez esteja mais perto do que julgamos”, contou Emídio Faria ao TAG, pois já “existem projetos de ‘carros voadores’ em desenvolvimento”. Mas não penses que vais poder andar nas nuvens com um Ford velho e ferrugento como fez o feiticeiro de Hogwarts. Os novos veículos voadores em fase de teste, chamados eVTOL, são viaturas elétricas que levantam e aterram na vertical, e parecem-se com helicópteros. No fundo, são drones que transportam pessoas. “Podem ser uma alternativa futura para nos movimentarmos nas grandes cidades”, encurtando muito o tempo de viagem e “tornando viável o conceito de táxi aéreo”, de acesso a todos. Em parceria com a NASA, a Uber, que faz serviços de transporte privado, prevê ter uma rede de táxis aéreos a funcionar em 2028, nos Estados Unidos, a tempo dos Jogos Olímpicos.

 

Já há carros que andam sozinhos

A condução autónoma e autonomamente assistida (isto é, que só precisa da supervisão do condutor) também será uma realidade em breve. Em Los Angeles, na Califórnia, já há carros que andam sozinhos nas ruas. Eles são os próprios motoristas dos seus donos.

O futuro vai passar também pelo transporte partilhado e por um grande investimento no transporte público. É verdade que a estrada a percorrer ainda é longa, mas o destino já se avista daqui.

 

Texto: Rita Salcedas