Censos: o que são, para que servem, o que nos dizem?

Censos: o que são, para que servem, o que nos dizem?

Espécie de retrato microscópico das características da população, são um importante ponto de partida para perceber as políticas a adotar. E os últimos apontam tendências preocupantes.

 

Raio-X em versão XL

Pensa num gigantesco estudo feito no país, em todos os distritos, todas as localidades, durante meses a fio. Como um raio-X pormenorizado da população portuguesa, que nos ajuda a perceber quantos somos, como somos, onde vivemos e de que forma. Por exemplo, qual a percentagem de população acima dos 65 anos, quantos estrangeiros vivem em Portugal, quais as zonas com mais gente.

Eis os censos, termo abreviado que diz respeito às operações estatísticas do Recenseamento Geral da População e do Recenseamento Geral da Habitação, que constituem uma das grandes referências de informação estatística em Portugal. Estarás porventura a pensar que um estudo destes deve dar um trabalho intenso e demorado. Verdade. Mas calma, os censos só se realizam de dez em dez anos.

 

Políticas públicas

Os censos são estudos importantes, sobretudo ao nível das políticas públicas. E sabes o que são políticas públicas? São programas, medidas ou iniciativas tomadas pelo Governo (ou pelas autarquias), com a participação de entidades públicas ou privadas, no sentido de garantir determinados direitos da população. Seja na área da Saúde, da Educação, do Ambiente, entre outras.

E podem beneficiar diversos grupos da sociedade ou apenas uma parcela específica. Voltemos aos censos para um exemplo prático: se os estudos apontam para um envelhecimento acelerado e acentuado da população, será preciso adotar políticas públicas que protejam os idosos e contribuam para aumentar a natalidade – que é como quem diz, o número de bebés que nascem no país.

 

Menos, mais velhos, multiculturais

 

Os dados mais recentes foram divulgados no fim do mês passado e dizem respeito aos resultados apurados nos Censos 2021. Entre as conclusões, salta à vista o facto de Portugal ter perdido população pela segunda vez em 150 anos. Somos agora 10,3 milhões de habitantes. E a perda só não foi mais considerável graças aos imigrantes, isto é, os estrangeiros que vieram viver para o nosso país.

Nos últimos dez anos, o número de estrangeiros residentes em Portugal aumentou quase 40%, representando agora 5,2% da população total. Os brasileiros são os que mais procuram o nosso país (quase 200 mil em 2021), seguidos dos nepaleses (cerca de 13 mil) e dos indianos (perto de 14 mil). Mesmo assim o fluxo migratório não tem sido suficiente para travar o envelhecimento da população: um em cada quatro portugueses tem hoje 65 ou mais anos.

 

Mais sozinhos e a fugir do interior

 

Há ainda outros dados relevantes nos Censos 2021. Por exemplo: o número de pessoas a viver sozinhas é cada vez maior (representa já 25% do total de famílias), as famílias numerosas são cada vez menos (20,3%), a percentagem de divorciados aumentou – na verdade, até já superam os viúvos – e a de casados diminuiu.

Noutra esfera, acentua-se a deslocação de uma parte considerável da população para o litoral e para perto de Lisboa, a capital do país. A prova é que um quinto do total da população se encontra agora concentrada em apenas sete cidades (Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia, Porto, Cascais, Loures e Braga). Os números são ainda mais importantes se tivermos em conta esta comparação: o número de pessoas que vivem nestas sete cidades é praticamente o mesmo que os residentes nos 208 concelhos menos povoados do país, que no total ocupam quase 66% da área do país.

Texto: Ana Tulha