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Dino D’Santiago tem novo álbum – um mix de estilos com mensagem global

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Saiu em finais de 2021 e é composto por 12 canções originais onde o famoso cantor de ascendência cabo-verdiana aborda temas como o aquecimento global, as guerras, as fugas dos refugiados, a morte dos mares. Mas o que é mais interessante é a história por detrás deste álbum.

Dino D’Santiago é, na verdade, Claudino Pereira, nascido na Quarteira, em 1982. Escolheu aquele nome artístico devido ao facto de os seus pais serem da ilha de Santiago, Cabo Verde. Com grande talento musical, os seus trabalhos primam pela mistura de estilos: hip-hop, rap, R&B e Soul, mas também toda a música de Cabo Verde (batuku, funaná,..). Tornou-se inicialmente conhecido como concorrente do programa de talentos Operação Triunfo (2003) e tem feito um percurso ade sucesso, compondo, participando em vários projetos a solo ou com bandas ( Expensive Soul, Dino & The SoulMotion, Nu Soul Family, com Virgul) e até ganhou o prémio do MTV Europe Music Award para Melhor Artista Português em 2010.

Sendo um artista muito empenhado, aposta em recuperar os valores e tradições da terra dos seus pais, que também é a sua, fundindo-os com sonoridades eletrónicas atuais e de variadíssimas influências em canções com mensagens fortes para todos – o seu “statement” para o mundo.

Neste trabalho, foi buscar a trágica história dos “badius”, gente capturada pelos portugueses no passado colonial em terras africanas para ser escravizada e servir os senhores da terra. Em Cabo Verde, essas pessoas conseguiram escapar para as montanhas da ilha de Santiago, tornando-se marginais ou “vadios” (“badius”, se se pronunciar com sotaque do norte de Portugal, de onde era a maioria dos colonizadores da ilha) e formaram uma nação Crioula no interior. Então, “badiu” tinha um valor negativo, mas, com o passar dos séculos, os herdeiros desse povo foram assumindo orgulhosamente essa denominação como símbolo da sua força e resistência ao domínio dos opressores.

E é isso que Dino quis honrar no seu álbum, essa coragem e força para resistir à opressão ou injustiças dos poderosos para que o mundo seja um lugar melhor para se viver.

Curiosa e simbólica é também a escolha da capa: é a fotografia de um pano usado pelos escravos à cintura, o “panú di téra”. Este pano era tecido pelos escravos, que misturavam padrões mouriscos e africanos, conjugando-os preferencialmente com o azul (indigo) e o branco. Tornou-se muito “apetecido” pelos colonizadores que o usavam para comprar escravos ou pagar multas. Acabou por ganhar significado político como um grito de protesto contra a opressão e foi-se misturando e impondo na cultura cabo-verdiana, sempre usado à cintura em festas e para tocar bakutu.

A mensagem das 12 canções e dos seus instrumentais conta esta história de dor e de resistência, mas há também lá mensagens de esperança e alertas para que todos nós façamos algo mais pelo planeta. No ano em que Dino foi pai de Lucas, este trabalho é também um pedido de reflexão para toda a humanidade.

Abaixo tens duas das canções:

“Esquinas”, com participação do rapper Slow J :

“Lokura” com a participação do DJ e produtor musical Branko:

Dino D’Santiago vai apresentar “Badiu” a 2 de abril no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Os bilhetes estão à venda por 20€.

 

Texto: Maria José Pimentel
Foto: Filipa Bernardo/Arquivo Global Imagens