É Carnaval, ninguém leva a mal! Sabe um pouco mais

É Carnaval, ninguém leva a mal! Sabe um pouco mais

Foto: Leonardo Negrão / Global Imagens

Também conhecido como Entrudo, o Carnaval é uma festa que se comemora sempre numa terça-feira. Os grandes festejos em Portugal acontecem sobretudo nas cidades de Ovar, Famalicão, Estarreja, Torres Vedras, Loulé e Funchal, com faustosos desfiles e muita gente a assistir.

Este ano, o dia do Carnaval é a 1 de março. No entanto, em Portugal, como os efeitos da pandemia da covid-19 ainda se fazem sentir, para evitar grandes ajuntamentos de pessoas, foi decidido, tal como em 2020 e 2021, o cancelamento de muitos desfiles e festejos carnavalescos, e não há as habituais férias para os alunos na 2ª, 3ª e 4ª feira. No entanto, o Governo concedeu tolerância de ponto para a Função Pública no dia 1 pela tradição que este festejo tem no país.

 

Como é que se nasceu o Carnaval?

 

Esta festa começou a acontecer na Antiguidade, sob influência de outras celebrações ou costumes pagãos. Por exemplo, em Roma, festejava-se a Saturnália, um festival que durava dias e em que as pessoas se mascaravam, comiam e bebiam à farta. Com o tempo, esta festa ficou tão popular que, com a entrada em cena da Igreja Católica resolveu-se conciliá-la com os preceitos religiosos, de modo a que a gente primeiro se divertisse e a seguir se “portasse bem”.

Carnaval (do latim carnis levale), significa “adeus à carne”. Isto porque, em 590 d.C, a Igreja determinou que o dia seguinte ao Carnaval, quarta-feira de Cinzas, marcasse o início de um período de jejum (não comer carne à sexta-feira, por exemplo). São 40 dias entre o Carnaval e a Páscoa (época que celebra a morte e ressurreição de Cristo entre os católicos) e esses dias são de reflexão e de contenção. É a Quaresma, que começa então na quarta-feira de Cinzas, o dia seguinte ao Carnaval.

Já no século XIII, no reinado de D. Afonso III, se festejava o Entrudo em Portugal. Do latim introitus, que significa “entrada”, era um período de três dias antes da Quaresma, em se lançavam pelas ruas baldes de água, ovos, laranjas e até farelos e se cometiam excessos na comida.

 

O que é o Domingo Gordo ou a terça-feira gorda?

 

O Carnaval é uma época de folia e de excessos, e a mesa é um bom exemplo.

Antes da Quaresma, há que comer e festejar. No domingo anterior, Domingo Gordo, e no Dia de Carnaval, há grandes almoços, com pratos como o cozido à portuguesa, a feijoada e as papas de sarrabulho e ainda queijos, chouriços e presunto, tudo regado com bom vinho, pois, segundo a tradição, a seguir, vem o jejum de 40 dias, comendo-se pouco ou optando-se por uma dieta magra, só com peixe, etc.

Antigamente, e ainda hoje em muitas terras, com a matança do porco no Natal, as carnes mais gordas eram cuidadosamente guardadas e salgadas pelas famílias para serem saboreadas no Carnaval. Orelhas, focinho, chispes e caudas eram as partes do porco degustadas apenas no Domingo Gordo. Daí o antigo ditado “No Entrudo, come-se tudo”.

 

Que outras tradições há em Portugal?

Carnaval de Torres Vedras – Foto: João Silva / Global Imagens 

Para festejar o Carnaval, o mais comum é as pessoas mascararem-se com fatos alusivos a uma determinada profissão, personagens de cinema, desenhos animados, etc. As crianças usam trajes coloridos, que vestem no domingo e na terça-feira de Carnaval em desfiles organizados pelas escolas e por associações de tempos livres.

Os desfiles de Carnaval são um dos pontos altos da festa. Habitualmente, neles há bonecos gigantes e carros alegóricos a assinalar um acontecimento ou a gozar com algum aspeto da sociedade (futebol, política, justiça…), recorrendo sempre ao sentido de humor para satirizar o estado do país. Há escolas de samba, serpentinas e confettis pelo ar, muita música, muita alegria.

 

E no resto do mundo?

 

O Brasil quase pára para celebrar o “maior Carnaval do mundo” e cada estado festeja de acordo com seu costume – as festas mais emblemáticas situam-se no Rio de Janeiro e São Paulo. Tudo é preparado durante o ano anterior, com concursos e desfiles de carros alegóricos e de escolas de samba, por exemplo, no famoso Sambódromo do Rio (espaço com capacidade para receber mais de 72,5 mil espectadores em cada um dos cinco dias das festas) e bailes por toda a parte. Há ainda o Carnaval de S. Salvador da Baía, muito conhecido e badalado pelos seus trios elétricos e pela música baiana.

 

Em Nova Orleães, nos EUA, festeja-se, desde 1857, o Mardi Gras ou Fat Tuesday, a terça gorda. O objetivo é comer, beber e festejar antes do período da Quaresma. Há desfiles, festas e muitos mascarados.

Foto: Reinaldo Rodrigues/Arquivo Global Imagens

 

Veneza, em Itália, tem o clássico Carnavale, desde o séc. XVI, quando os nobres saiam e se misturavam como povo disfarçados. Começa duas semanas antes da quarta-feira de Cinzas e termina na terça-feira gorda (ou Martedì Grasso). O Carnaval de Veneza é uma atração turística nesta cidade italiana e destaca-se pelos trajes clássicos e renascentistas, as máscaras venezianas feitas de papier mâché, o desfile na Piazza de San Marco e o cortejo aquático de gôndolas e barcos, que atravessa o Grande Canal até ao Rio Cannaregio. A cidade ganha um ambiente de baile de máscaras ao ar livre, mas também se festeja no interior de palácios antigos, com bailes de máscaras, com muito luxo e brilho.

 

Foto: Andrea Merola/EPA

A cidade francesa de Nice tem o famoso Mardi Gras, durante 15 dias de festas e de excessos, com desfile de carros alegóricos com bonecos gigantescos, uma Batalha das Flores, onde personagens em carros floridos atiram flores ao público, espetáculos de luz e festas de rua super animadas.

 

Na Alemanha, as festas mais conhecidas são em Bona, com desfiles de mascarados que escondem os rostos do diabo que anda à solta pelas ruas. Já em Colónia, torna a haver desfiles de carros alegóricos, tudo regado com muita cerveja e animação.

 

Em Barcelona, Espanha, o Rei Carnestoltes, personagem fictícia que simboliza o espírito carnavalesco, abre as festividades, dando a autorização a todos para se divertirem “sem limites” até terça-feira à noite. Há grandes desfiles, bailes de máscaras, festas de bairro, concursos de comida, muita Botifarrada (churrasco de salsicha) em Las Ramblas, e até uma escolha da Rainha do Carnaval.

 

A festa de Binche, na Bélgica, já foi reconhecida pela Unesco, dada a sua originalidade, cor, exotismo, honrando a tradição cultural da cidade. Há as paradas de Gilles, homens vestidos com as cores da bandeira da Bélgica e com chapéus plumados. Todos dançam ao som de músicas tradicionais, atiram ainda à multidão laranjas sanguíneas, símbolos da sorte.

 

Na cidade de Quebeque, no Canadá, há o maior Carnaval do Inverno durante três semanas. Além de descidas de trenó e hóquei no gelo, destaca-se o Palácio do Gelo do boneco de neve Bonhomme, a Competição Internacional de Esculturas na Neve, a corrida de canoas no rio congelado e o St. Hubert Snow Bath, um evento só para corajosos, que envolve mergulhos na neve em fato-de-banho. Para aquecer, bebe-se Caribou, a bebida oficial com brandy, vodka, xerez e vinho do Porto.

 

Em Bogotá, na Colômbia, sucedem-se os espetáculos, com danças e ritmos folclóricos como a cúmbia, pito, gaita, salsa, fandango, mapalé e merecumbé. O carnaval colombiano é considerado pela Unesco como “Obra Mestra do Património Oral Intangível da Humanidade”.

 

Na capital do Equador, Quito, são duas semanas comemoradas com muita dança, roupas típicas e guerra de balões de água, para além dos desfiles de carros alegóricos enfeitados com flores e frutas.

 

No bairro de Notting Hill, em Londres, Inglaterra, o Carnaval é em agosto. Há sempre muitos turistas e muitos populares a celebrar o carnaval caribenho, uma fusão de tradições africanas e europeias. As máscaras têm muitas plumas e brilhos, as ruas enchem-se de dançarinos vestidos com fatos elaborados, em paradas onde impera a música, a cor e a multiculturalidade em particular. Há ainda sabores caribenhos para provar, desde frango com especiarias até callaloo, um prato de vegetais, e guisado tradicional de cabrito.

Texto: Maria José Pimentel