Entrevista a Graça Freitas por três jovens jornalistas

Entrevista a Graça Freitas por três jovens jornalistas

À chegada, Luísa Ferreira, 12 anos, Duarte Nabais e Raquel Rodrigues, 11, declaram-se nervosos. “Um nervoso miudinho”, especifica Duarte. “Porque é a primeira vez que faço uma entrevista e porque é a Graça Freitas, que vejo na televisão, e é uma pessoa muito importante por causa da covid.”

Na sala ampla onde terá lugar a conversa com a diretora-geral da Saúde, destacam-se os retratos de todos os que lideraram a DGS. “No futuro, isto vai ser mais repartido”, avisa Raquel, mal nota que entre as 20 figuras emolduradas estão apenas duas mulheres. Duas médicas – Maria Luísa Van Zeller (1963-1971) e a atual diretora-geral. “Achas que vai ser mesmo assim, no futuro?”, provoca Graça Freitas. Com toda a certeza. “Para ser diretora é só preciso querer muito”, considera Luísa.

Decorrem os preparativos do vídeo e da sessão fotográfica. Graça Freitas enumera a Duarte as vantagens do confinamento: mais tempo para ler, para regar as plantas ou para aprender a cozinhar, sugestão que provoca um sorriso nos pré-adolescentes. Estão no 6.º ano, são amigos de sempre. Estão ali para saber tudo.

Duas horas depois. O nervoso miudinho foi-se. Comentam a anfitriã. “É muito fixe”, diz Luísa, com alguma surpresa, uma vez que “na televisão, parece mais rígida”. Explica “as coisas muito bem”, acrescenta Duarte. É também “muito simpática e sorridente”. Estranhou apenas tão pouca altura para “tanta importância”. “Na televisão parece mais alta e afinal somos quase do mesmo tamanho.” Luísa resume a impressão numa frase. “É igual à avó Bina.”

Luísa FerreiraOs meus pais arranjam máquinas (de ecografia e Raio X) nos hospitais. Como não é muito fácil desinfetar carros, posso andar de carro com eles?
Os teus pais lidam com hospitais, mas tenho quase a certeza de que tomam muitos cuidados. Usam máscara, lavam frequentemente as mãos, desinfetam-nas, tomam precauções. Estás preocupada porque eles levam para casa a roupa do trabalho, é isso? Bom, a probabilidade de levarem vírus na roupa não é muito grande, mas percebo a tua preocupação. O que podem fazer? Podem e devem lavar a roupa na máquina a 60 ou 70 graus, porque, à partida, os vírus não aguentam essa temperatura. Podem ainda deixar os sapatos no hall e andar em casa com roupa e sapatos que não vão à rua.

 

Duarte Nabais – De 13 de março até hoje não saí de casa. Continua a ser perigoso?
Já ultrapassámos a fase em que estávamos em estado de emergência. A fase em que havia mais vírus a circular no nosso país, e que levou o Governo a medidas que obrigaram a que ficássemos em casa, tal como tu fizeste e muito bem. Nessa fase, quanto menos circulasses menos risco corrias de ser infetado pelo vírus. Tu e todas as pessoas. Neste momento, estamos numa outra fase, a que se chama estado de calamidade. Uma fase que já nos permite estar, por exemplo, aqui, nesta sala. Ainda que, como vês, com muito cuidados. Fosse há um ano e tínhamos dado uns beijinhos e uns abraços, estávamos todos juntos, não levaríamos este tempo todo a arranjar a sala, não tínhamos desinfetados as mãos, não tínhamos posto e tirado máscaras. Usar máscara, tirá-la com cuidado, colocá-la num saco individual e, depois, no lixo. Depois, manter a distância, porque o mais importante é que as gotículas que saem da minha boca não cheguem a ti. Espirrar ou tossir protegendo a boca com o cotovelo, que, sabes, é a área do nosso corpo que menos toca nos outros e nos objetos. Portanto, a resposta é sim, podemos ir à rua, com a nossa família podemos andar em grupo. Mas com todos os cuidados. Tu não tens a certeza de que eu não estou infetada e eu não tenho a certeza de que tu não estás infetado. Para eu te proteger tens de me proteger, manter distância física, desinfetar as mãos e os equipamentos. Por exemplo, quando sairmos, esta mesa vai ser desinfetada.

Duarte conta pelos dedos: distância física, máscara, lavagem das mãos, etiqueta respiratória e limpeza das superfícies. “Gestos que não excluindo completamente o risco – há sempre um bocadinho de risco – fazem com que seja muito pequeno”, acrescenta a médica.

 

Raquel Rodrigues – Já se habitou a usar máscara?
É uma boa pergunta. Mas, sabes, sou médica e há procedimentos que os médicos fazem nos hospitais que obrigam ao uso de máscara. Quer como aluna, quer depois, no hospital de Santa Maria, aprendi alguns truques. Por exemplo, ali para a Luísa que tal como eu usa óculos – se se passar sabão nas lentes e de seguida as limpar com um pano, não embaciam. É um bom truque. Reconfirmei-o agora, que estou a retomar o uso da máscara. Mas só a uso quando é necessária, tendo sempre muito cuidado com ela. Nunca a pouso em superfícies, não deixo que lhe toquem e guardo-a sempre numa embalagem que, mal posso, coloco no lixo. Esse é o procedimento normal. Quando vou passear, não a levo, porque tento manter os dois metros de distâncias dos outros. Aqui, na DGS, também não. Uma fita divide o meu gabinete ao meio, de um lado estou eu, do outro estão as pessoas com quem trabalho. A máscara deve ficar para as situações em que sabemos que não vamos conseguir manter a distância física. Nos supermercados, por exemplo.

 

A entrevista na íntegra está publicada na edição de aniversário da revista Notícias Magazine (31 de maio).

Podes ver o vídeo aqui.

 

Texto: Alexandra Tavares-Teles
Foto: Orlando Almeida/Global Imagens