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Fui operado por um robô. Verdade ou mentira?

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Se já foste ao cinema ver o novo filme da saga “Velocidade Furiosa” deves ter reparado que, a determinada altura, uma das personagens é operada a um ferimento sem qualquer intervenção humana. Mas também não é por magia. Um grande robô aproxima-se de Letty e, com todos os seus braços, que nem um polvo, vai suturando a ferida aberta. Será que um dia esta cena pode passar da ficção para a realidade? Na verdade, já há robôs a operar (não sem intervenção humana, como no filme, mas já com alguma autonomia). E existem em Portugal.

Um ecrã entre o médico e o doente

 

Para já, apesar de se chamar cirurgia robótica, trata-se apenas de assistência por parte da tecnologia. Ou seja, quem faz a operação cirúrgica continua a ser o médico. Mas, em vez de estar em contacto direto com o doente, o especialista encontra-se em frente a um ecrã.

Imagina um grande robô, uma espécie de polvo mecanizado, com vários braços. Em cada braço há instrumentos necessários à cirurgia e câmaras. O robô interage com o paciente e, por sua vez, o médico controla tudo através de uma “cabina” externa, na qual tem acesso a imagens tridimensionais. O médico “mexe” no paciente controlando um joystick (parecido com aqueles que certamente já utilizaste para pilotar um avião ou um carro num videojogo).

A cirurgia robótica existe há 20 anos e calcula-se que haja cerca de seis mil robôs cirúrgicos no Mundo. Foi em 2001 que um cirurgião de Nova Iorque, Estados Unidos, operou uma pessoa em Estrasburgo, França (recorrendo ao controlo de robôs) – esta foi considerada a primeira telecirurgia feita no Mundo e ficou conhecida como Operação Lindbergh.

 

Rodar o pulso 360 graus e outras vantagens

 

Porquê ser operado por um robô? Estas operações são consideradas minimamente invasivas (ou seja, não há uma abertura no corpo para chegar ao local a operar, mas antes pequenos cortes do tamanho de uma moeda de um ou dois cêntimos). Esta intervenção mínima faz com que seja reduzido o tempo da cirurgia, do internamento e da recuperação, reduz a taxa de complicações, como sangramentos e infeções e aumenta a precisão do cirurgião (não há tremores com as mãos, por exemplo). Por último, melhora os resultados estéticos.

O robô permite ao médico, além de ver em 3D (são utilizado óculos tal e qual como no cinema), ampliar uma imagem até 15 vezes – algo impossível ao olho humano.

Outra das vantagens é haver total liberdade de movimento, já que os robôs não dependem de tendões e podem rodar a “mão” 360 graus. E se o médico se distrair? Não há problema. Se o profissional que está no controlo desviar o olhar do ecrã, o robô ativa um dispositivo de segurança para bloquear o equipamento.

 

Em Portugal

 

O primeiro robô em Portugal chegou ao Hospital Curry Cabral, em Lisboa (Serviço Nacional de Saúde), em 2019. Há poucos meses, juntaram-se a este o Hospital de São João e o Hospital de Santo António, ambos no Porto. Este último realizou recentemente uma operação robótica pioneira: uma cirurgia ao joelho para colocação de uma prótese. Mas há outras áreas de atuação, sendo as mais comuns urologia e cirurgia gástrica, bariátrica e colorretal. Principalmente na remoção de tumores. Antes de realizar cirurgia robótica, o cirurgião tem de passar por um rigoroso processo de formação, realizando várias sessões de simulação e de treino virtuais ou em animais.

 

O futuro

 

A constante evolução da tecnologia pode fazer sonhar com uma realidade como a do filme “Velocidade Furiosa X”, em que, através de inteligência artificial, os robôs poderão ser capazes de operar sozinhos. Seria útil em situações de catástrofe, por exemplo, em que o número de vítimas é superior à capacidade humana para as tratar.

Em 2022, a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, conseguiu, com sucesso, fazer a primeira operação automatizada da História, sem qualquer ajuda humana. A experiência aconteceu num porco. Mas há outros cenários futuros com os quais já podemos sonhar: por exemplo, com a melhoria da rede móvel, poderá passar a ser possível fazer cirurgias à distância, sem a necessidade de o médico e a máquina estarem na mesma sala, mas mantendo a mesma precisão.

Há ainda o feedback háptico, que é relativo ao tato, ou seja, a possibilidade de, um dia, o cirurgião sentir a textura e a resistência dos materiais, mesmo à distância – algo semelhante a seres capaz de sentir os picos de um cato através de uma videochamada.

Texto: Sara Sofia Gonçalves
Foto: Artur Machado/Arquivo Global Imagens