Morreu Jorge Sampaio. Sabes quem foi este homem que todos elogiam?

Morreu Jorge Sampaio. Sabes quem foi este homem que todos elogiam?

Chamava-se Jorge Fernando Branco de Sampaio e foi um importante político português que exerceu o cargo de presidente da República Portuguesa por dois mandatos, entre 1996 e 2006.

Nasceu em 1939 e faleceu a 10 de setembro de 2021, com 81 anos, vítima de doença cardíaca. Era casado em segundas núpcias com Maria José Ritta e tinha dois filhos, Vera e André.

As cerimónias fúnebres prolongaram-se por três dias, com luto nacional, funeral de Estado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, e manifestações de apreço de muitas personalidades da vida pública portuguesa e estrangeira em todos os meios de comunicação social (Imprensa, Rádio e Televisão), reveladores do impacto que este homem teve na vida dos portugueses.

Com uma infância de contactos frequentes com Inglaterra e os Estados Unidos, devido à profissão do seu pai, destacou-se no meio académico da Universidade de Coimbra participando no movimento de contestação estudantil contra as repressões da ditadura salazarista. Já advogado, envolveu-se muitas vezes na defesa de presos políticos, defendendo uma viragem para uma via democrática do regime político.

Após o 25 de Abril de 1974, envolve-se definitivamente na vida política: inscreveu-se no Partido Socialista (1978), tornou-se membro ativo na Assembleia da República e da Comissão Europeia para os Direitos Humanos e foi presidente da Câmara de Lisboa. Já presidente da República, destacou-se a sua ação de sensibilização para a tomada de consciência da causa pela Independência de Timor-Leste, tendo visitado o país por três vezes e sendo muito acarinhado por aquele povo e pelos seus líderes.

Quando deixou este cargo, abraçou totalmente as causas humanitárias do mundo, dando maior expressão à sua vertente humanista e diplomática que ajudou a que o apelidassem de “construtor de pontes”: foi o Enviado Especial para a Luta contra a Tuberculose e, em 2007, nomeado Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, na promoção do diálogo entre o Ocidente e o mundo árabe e muçulmano. Nos últimos anos, desenvolveu um projeto de solidariedade para o acolhimento nas universidades portuguesas de estudantes oriundos de zonas de guerra no globo, sobretudo da Síria – a Plataforma Global para Estudantes Sírios (criada em 2013).

Uma das suas últimas intervenções foi uma manifestação de inquietação face à crise governativa no Afeganistão que está a pôr em perigo as liberdades individuais e o direito à educação da mulheres, anunciando a sua intenção de criar um programa de emergência de bolsas de estudo para jovens afegãs que venham para Portugal.

Homem com uma vasta cultura (literária, filosófica, histórica, musical), sereno e de grande cortesia, procurou sempre conciliar pontos divergentes e experimentar as melhores soluções, através da auscultação, da discussão, do diálogo.

Deixou marcas no combate à pobreza, à erradicação das barracas e da droga, com gestos, por vezes, surpreendentes, que fugiam ao protocolo presidencial. Recorde-se a sua inesperada ajuda para que duas gémeas de uma aldeia de Baião continuassem os seus estudos, garantindo o seu transporte desde a sua casa à escola.

 

 

Texto: Maria José Pimentel
Foto: Arquivo JN