O smartphone não faz mal, mas não te ligues em demasia. Podes perder muitas das coisas engraçadas que existem no Mundo.
Vamos deixar isto bem claro, sim? Os telemóveis só prejudicam quando te ligas em excesso ao aparelho. É exatamente como dizem os antigos: “O que é demais, é moléstia”. E é esta também a opinião do pedopsiquiatra Pedro Strecht: “O seu uso [do telemóvel] exclusivo ou predominante como forma de relação e comunicação com os outros e o mundo em geral deve ser evitado”.
O especialista acha que o tempo que as crianças e os adolescentes passam ao telemóvel deve ser “gradativo”. Ou seja, “à medida que vão crescendo pode ser expectável que ocupem mais tempo nesse tipo de atividade, até porque o uso de contactos por redes sociais (Instagram, WhatsApp) emerge com mais força na adolescência”.
A principal razão, segundos os especialistas, pela qual estás muito ligado ao telemóvel, “é a possibilidade de os telemóveis favorecerem o acesso à Internet”. Este acesso “abre uma janela infinita para o Mundo, com tudo o que de bom isso tem, mas também com riscos acrescidos e muito difíceis de controlar (sites com temas agressivos, sexualmente explícitos ou outros)”, descreve Pedro Strecht.
Seja como for, tens de estar ciente de que não podes viver isolado, fisicamente, dos teus amigos e família.
O exemplo começa em casa
A escola e a família têm um papel importante na orientação e gestão do uso do telemóvel. “Pais e escolas podem e devem continuar a oferecer outras formas de atividade, contacto e crescimento, como todas aquelas que também valorizem a presença física em grupo, o desporto, entre outros”, indica o pedopsiquiatra, criticando o comportamento de alguns pais que, “em idades cada vez mais precoces dos filhos, introduzem os telemóveis ou tablets como forma de entretenimento”, num verdadeiro e desadequado papel de babysitters. Convém não esquecer que o telemóvel é apenas um objeto, não serve para tomar conta de ti.
O lado B do uso dos telemóveis
A psicóloga Vera Ribeiro da Cunha disse ao TAG que “o uso de dispositivos tecnológicos está longe de ser prejudicial. Se bem orientado, pode estimular a criatividade, o raciocínio lógico, a colaboração, a capacidade de pesquisa e outras competências valiosas para o mundo contemporâneo”. No entanto, um estudo recente, citado por esta psicóloga, revela que os adolescentes portugueses apresentam um valor de utilização excessiva do smartphone (57%), número superior à média europeia (48%). Ou seja, as novas tecnologias galopam e vieram para ficar.
Risco de dependência
Recentemente, a Organização Mundial de Saúde incluiu no campo das patologias aditivas (tais como o álcool ou as drogas) o uso irresponsável de telemóveis e tecnologias. “Quando assim é, o efeito do seu uso torna o mundo emocional e cognitivo da criança e do adolescente muito mais reduzido e desfasado até da própria realidade”, frisa o pedopsiquiatra Pedro Strechet. Já Vera Ribeiro da Cunha lembra que “o apego ao smartphone não é necessariamente negativo. O problema surge quando a utilização se torna excessiva, começando a interferir com a saúde física e o bem-estar psicológico da pessoa”.
Texto: Joana M. Soares
Ilustração: Bárbara R.