Nos últimos meses, a Coreia do Norte tem sido notícia pelo lançamento de mísseis, pelos testes nucleares que tem realizado e pela constante troca de ameaças entre Kim Jong-un, o líder norte-coreano, e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América.
Mas, afinal, que país é a Coreia do Norte e o que é que quer?
Uma Coreia dividida em duas
Antes do final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, existia apenas uma Coreia, ou melhor, a Península da Coreia, que estava sob o domínio do Japão.
Quando o Japão perdeu a Segunda Guerra Mundial, a Península da Coreia foi dividida em dois países: Coreia do Norte, ocupada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e Coreia do Sul, ocupada pelos Estados Unidos da América (EUA). Mas tanto a Coreia do Norte como a Coreia do Sul queriam dominar toda a península. Em 1950, a Coreia do Norte, apoiada pela URSS e pela China, invadiu a Coreia do Sul. A Coreia do Sul ripostou, apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos norte-americanos.
O conflito entre os dois países ficou conhecido como a Guerra da Coreia e durou três anos. Em 1953, foi assinado um armistício - um acordo para suspender a guerra.O país mais secreto do Mundo
Pyongyang é a capital da República Popular Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte, um país rodeado de secretismo.
O Mundo sabe muito pouco sobre o que verdadeiramente se passa na Coreia do Norte e os norte-coreanos estão autorizados a saber também muito pouco do que se passa no resto do Mundo.
Salvo raras exceções, toda a informação enviada para o exterior é filtrada pelo Governo, assim como toda a informação que entra. Mas há mais: os norte-coreanos não estão autorizados a sair do país; não podem fazer telefonemas internacionais; e não podem aceder à Internet, nem comprar um computador sem autorização.
Também controladas pelo regime são as emissões televisivas e radiofónicas, onde é feita muita propaganda ao líder. Quem desobedece às regras é punido de forma severa. Contudo, parece ser um erro pensar que os norte-coreanos não gostam da vida que têm. Simplesmente, não sabem como é a vida no resto do Mundo.
E quem viaja para a Coreia do Norte, em turismo, tem de seguir regras rígidas que implicam pouco contacto com a população, que, em geral, também só fala coreano.A liderança da dinastia Kim
Na Coreia do Norte só um partido governa: o Partido dos Trabalhadores da Coreia, que herdou a ideologia comunista do período em que foi ocupado pela URSS. Mas, apesar de se tratar de um partido político, na prática funciona como uma monarquia, em que os líderes governam até à data da morte, sucedendo-lhes os filhos.
Há quase 70 anos no poder (e mais parecem vir, uma vez que o atual líder é ainda jovem), os Kim são uma espécie de deuses. Concentram sobre si todo o poder político e militar da Coreia do Norte e reinam através da adoração e do medo que inspiram por serem implacáveis com os opositores.
Kim Il-sung, considerado pela Constituição o “Eterno presidente”, governou o país desde que este foi fundado, em 1948, e foi ele quem começou a Guerra da Coreia. Em 1994, quando Kim Il-sung morreu, o filho Kim Jong-il ocupou o seu lugar, como “Querido líder”. Em 2009, dois anos antes de morrer, nomeou o filho mais novo, Kim Jong-un, como seu sucessor.
Kim Jong-un ascendeu a “Líder supremo” em 2011, quando tinha 27 ou 28 anos, não se sabe bem, uma vez que toda a sua vida está envolta em grande secretismo. Consta que terá estudado na Suíça, sob pseudónimo, que é casado e que tem três filhos.Querem armas nucleares para atacar ou se defenderem?
Foi Kim Il-sung, o avô, quem lançou o programa nuclear na Coreia do Norte, em 1994. O objetivo era defender o país de ameaças exteriores.
O resultado foram sanções económicas por parte dos outros países, que impediam a compra e venda de bens, numa altura em que a Coreia do Norte se encontrava numa grave crise. Perante as sanções, Kim Il-sung concordou em encerrar o programa nuclear, mas quando o filho lhe sucedeu continuou com o programa em segredo. O argumento era o mesmo: garantir a segurança em caso de invasão.
Quando Kim Jong-un, o neto, chegou ao poder, aumentou e aperfeiçoou a produção de armas nucleares, assim como aumentou o lançamento de mísseis de teste (de maior alcance).
Vários especialistas asseguram que os norte-coreanos não querem iniciar uma guerra, só querem ter armas nucleares como sinal de poder para garantirem a sua independência. A verdade é que o constante lançamento de mísseis tem sido encarado como uma provocação.O que faz o Mundo perante a ameaça nuclear?
A Coreia do Norte não pode produzir nem testar armas nucleares. Quando desobedece, a ONU aplica-lhe sanções económicas, que levam a que o país tenha menos dinheiro e falta de bens, tentando, dessa forma, fazê-los desistir da produção destas armas.
Mas a Coreia do Norte não está sozinha. A vizinha China, principal parceiro económico da Coreia do Norte, também tem dificuldade em lidar com a situação. Por um lado, não quer punir a Coreia do Norte, mas, por outro, não quer uma guerra, ainda por cima junto à sua fronteira.
Também a Rússia, que faz fronteira com o país, mantém boas relações económicas e diplomáticas com os norte-coreanos, optando por apelar ao diálogo e não às sanções.
Nos últimos dias, os ânimos têm andado muito exaltados e o secretário-geral da ONU, António Guterres, já apelou à calma e defendeu uma resolução diplomática para esta crise. Os EUA, pela voz de Trump, têm ameaçado reagir severamente, caso os norte-coreanos ataquem o país ou algum dos seus aliados.
Textos: Catarina Cruz
Ilustração: João Vasco Correia