O ecstasy é uma anfetamina perigosa que altera o funcionamento dos neurónios e interfere na atenção e na capacidade de aprender. Há um projeto que vai às escolas falar de drogas e do mal que elas fazem à cabeça.
É tudo muito rápido, faz mal ao cérebro, e o resto do corpo ressente-se. Atenção, muita atenção: o ecstasy é um perigo. Nunca deixes que faça parte da tua vida. Esta pastilha demora cerca de 15 minutos a chegar ao cérebro e quando lá chega é como se a realidade deixasse de existir. E o chão pode fugir debaixo dos teus pés.
Teresa Summavielle, neurocientista, bioquímica, investigadora do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, percebe do assunto e explica o que acontece. Não é nada bom. “O ecstasy é uma pastilha que passa rapidamente do estômago para o sangue e em poucos minutos chega ao cérebro”, diz a cientista, que é também responsável pelo projeto “Põe-te a Milhas das Pastilhas”, que vai às escolas falar de ecstasy, canábis e álcool. E fala sem rodeios, com o máximo de informação, porque convém saberes tudo.
Cientificamente falando, quando se consome ecstasy, os neurónios não conseguem recapturar a serotonina, um neurotransmissor que existe no teu cérebro e que é responsável por regular o humor. Vai daí, os neurónios são obrigados a produzir serotonina novamente, o que significa gastar mais energia e mais nutrientes. Os neurónios entram em esgotamento e a atividade cerebral perde força.
Memória e atenção em risco
Teresa Summavielle avisa que esta pastilha, que provoca uma sensação de euforia durante um período, conduz a estados depressivos, provoca problemas de sono, altera a produção de hormonas. “Interfere no desenvolvimento harmonioso, na memória e na atenção. Tem um impacto na capacidade de estar atento, na atenção para aprender.” O que obviamente mexe com o aproveitamento escolar. Para pior, claro. Mas há mais complicações. “A memória fica um pouco perturbada e a capacidade de avaliar os riscos fica limitada.” Como se uma pessoa perdesse o controlo sobre o seu próprio ser.
Com ecstasy, a temperatura do corpo dispara, podendo atingir 40 graus com facilidade, o que leva à ingestão de água ou outros líquidos sem parar e sem noção desse excesso. E há mais perigos, desde a desidratação à paragem da respiração e do bater do coração. Como vês, estas pastilhas, habitualmente coloridas e com símbolos, são um risco elevado para a saúde. Após quatro dias a tomar ecstasy, uma parte importante do cérebro deixa de estar ativa porque as ligações entre os neurónios ficam mais reduzidas e fracas. E, mesmo depois de sete anos sem consumir essas drogas, há apenas uma pequena recuperação dessa atividade cerebral.
Misturas explosivas
Outro assunto bastante sério. Tomar drogas é altamente tóxico para o teu cérebro, misturá-las é do pior. As pastilhas de ecstasy contêm outras drogas e misturá-las com álcool e canábis pode arrasar com qualquer cabeça.
Há uma questão muito importante no meio de tudo isto: o teu cérebro é um órgão extremamente vulnerável, que ainda não está maduro ou totalmente formado. O teu corpo não está preparado para determinados metabolismos. “O álcool é muito mais tóxico para um adolescente do que para um adulto”, salienta a neurocientista Teresa Summavielle, e isto está demonstrado por várias evidências científicas. Como também o mal que as drogas fazem a seres de todas as idades. Entram na circulação, passeiam pelo sangue, atacam a cabeça, e podem provocar estados psicóticos e esquizofrenia. Deixar que as drogas comandem a vida não é uma decisão inteligente.
Canábis e álcool
O projeto “Põe-te a Milhas das Pastilhas” tem sessões adaptadas aos alunos do 9.º ao 12.º ano e vai às escolas abordar de que forma os neurónios têm uma má relação com a canábis, o ecstasy e o álcool. O projeto nasceu em 2007 e já chegou a mais de 20 mil alunos do Grande Porto, sobretudo de turmas do 9.º ano.
As sessões têm cerca de 40 minutos, seguidas de perguntas dos alunos para esclarecimento de dúvidas. Inicialmente este projeto foi financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Depois disso, sem ajuda financeira, continuou a percorrer escolas, integrando o programa educativo do i3S.
Consequências a longo prazo do ecstasy
•Dificuldades de organização, concentração e memória
• Alterações dos ciclos de sono
• Desregulação da temperatura do corpo
• Desenvolvimento de paranoias
• Dificuldade de relacionamento e desinteresse sexual
Texto: Sara Dias Oliveira