Tens músculos e fibra, articulações e neurónios, emoções e cinco sentidos em ação. Para correr, saltar, brincar, sentir, cheirar, abraçar, espreguiçar, rir. A felicidade também é isto. É amor e ser quem és.
Contentamento pode ser o colo da mãe ou do pai, os abraços dos irmãos ou dos primos, a adrenalina de subir às árvores com amigos ou descer a rampa de um escorrega, saltar como se não houvesse amanhã, rebolar na relva sem destino traçado, jogar à bola com os colegas da escola, brincar na praia, mergulhar na piscina ou nadar no mar. A felicidade pode ser aquela sobremesa em que as papilas gustativas dão pulos de contentamento, o ar puro e fresco a entrar pelas narinas, uma prenda tão desejada. A felicidade pode ser não ter horas marcadas. Fazer tudo ou não fazer nada. Pode ser um momento, uma sensação, uma emoção. Um segundo, uma hora, um dia. O tempo que for.
Em termos científicos, há dois nomes a reter: dopamina e serotonina. São neurotransmissores que, no cérebro, trabalham lado a lado para a felicidade. “A dopamina é bastante importante porque dá motivação para fazer coisas, ver mais, fazer mais, aprender mais”, explica a neurocientista Teresa Summavielle. É a molécula da disponibilidade que recompensa o cérebro. Quanto à serotonina, convém que os níveis estejam equilibrados – nível baixo significa depressão, nível alto euforia.
E há mais um nome complicado a saber: oxitocina. “É uma molécula que é produzida no hipotálamo, uma região do cérebro associada à nossa capacidade social de fazer ligações afetivas com outros seres humanos”, adianta a neurocientista. É a molécula das ligações emocionais e do bem-estar, muito importante nos primeiros anos de vida.
Depois, há outros fatores, sociais e ambientais. Ser feliz, refere Teresa Summavielle, é também “aprender a dar valor às pequenas coisas, a valorizar as pequenas vitórias.”
Mas não há horas marcadas ou fórmulas mágicas para que a alegria desça à terra. “Felicidade é sentir que somos amados, que somos úteis, que fazemos parte de alguma coisa. É saber com quem podemos contar”, salienta a médica pediatra Ana Duarte. É alcançar uma meta, é cumprir um objetivo. E é muito mais do que isso. “É tirar o bom de todas as coisas”, sublinha. “Tens uma série de sensações, uma série de emoções que proporcionam tranquilidade. Uma paisagem que vês, os movimentos da natureza, um som que não esperas.”
E as emoções são muito bem-vindas. “Para ser feliz é preciso não ter medo de sentir”, realça a psicóloga Joana Araújo Lopes. Ser o que se é. Querer experimentar, ter objetivos, conquistar desafios. Sem esquecer que há altos e baixos. A infância “é altura de errar, cair, levantar, e aprender com isso”. A felicidade implica um bocadinho de esforço porque não cai do céu aos trambolhões. Mas vale a pena, porque ser feliz é umas melhores coisas da vida, certo?
Texto: Sara Dias Oliveira
Ilustração: Bárbara Rocha