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Um vulcão despertou na Islândia. Que fenómeno é este?

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Entrou em erupção a 18 de dezembro, a pouco mais de 40 quilómetros da capital Reykjavik. O aumento das temperaturas talvez esteja a contribuir para mais explosões. A questão é se há algo de novo nestes fenómenos e se os conseguimos prever.

A erupção que obrigou a evacuar milhares

Um vulcão situado na região de Reykjanes, na Islândia, a pouco mais de 40 quilómetros da capital Reykjavik, entrou em erupção a 18 de dezembro, já depois de milhares de pessoas terem sido retiradas, logo no início de novembro, das zonas envolventes.

A intensa atividade sísmica – que provocou inclusive a abertura de grandes fissuras nas estradas e terras – denunciou que o vulcão poderia entrar em erupção em breve. Ou seja, o rio subterrâneo de magma, ao dirigir-se para a superfície e estar prestes a romper o solo, provocou milhares de sismos e alertou o país para a hipótese de o vulcão ter despertado. E despertou mesmo. Entretanto, os fluxos de lava diminuíram consideravelmente e o vulcão parece já ter-se extinguido.

Ainda assim, as erupções na Península de Reykjanes são um capítulo recente nos fenómenos geológicos estranhos que acontecem na Islândia. Após um hiato de 800 anos, recomeçaram em 2021, com uma erupção que durou meses. Depois, em 2022, o mesmo vulcão explodiu novamente. Mas agora, em dezembro de 2023, levou à evacuação de uma comunidade inteira, algo que não acontecia há 50 anos. A Islândia está habituada à atividade vulcânica, contudo há algo de intrigante a acontecer nesta região que tem atraído cientistas de todo o Mundo. A verdade é que o despertar de Reykjanes pode ter mais erupções a fermentar nas profundezas do subsolo.

 

Uma novidade?

Talvez não saibas que a Islândia é o lar dos vulcões mais imprevisíveis do Mundo. Por exemplo, em 2010 outra erupção vulcânica na ilha gerou o caos no espaço aéreo, porque as cinzas do vulcão Eyjafjallajokull provocaram o maior cancelamento de voos desde a Segunda Guerra Mundial, com cerca de 900 mil suspensos.

 

O mistério islandês

No norte da Europa, a Islândia é a Terra do Gelo e do Fogo, o lugar do Mundo onde o frio glaciar e o calor do interior da Terra se unem. Esta ilha é um autêntico espetáculo natural. Fica no extremo setentrional da Dorsal Meso-Atlântica, no ponto de separação entre as placas tectónicas euro-asiática e norte-americana.

É importante explicar isto porque é a separação destas placas a responsável pela grande atividade vulcânica da Islândia. O ponto onde se afastam uma da outra faz com que a acumulação do magma que existe debaixo da terra se infiltre através das fissuras, o que dá origem a erupções vulcânicas ao aproximar-se da superfície. Contudo, a ilha dispõe de grandes infraestruturas para lidar com isto.

Glaciares a derreter, mais erupções?

Os cientistas acreditam que o aumento das temperaturas está a derreter os glaciares, que funcionam como tampas pressurizadas em muitos dos vulcões do Mundo. Os vulcões são verdadeiras bombas-relógio da natureza e podem estar a despertar cada vez mais. E talvez os sinais de alerta também estejam a mudar. Normalmente, antes das erupções, o magma agita-se debaixo da Terra e sentem-se milhares de terramotos, que vão aumentando até à erupção. Quanto mais se aproxima a erupção, maiores são os sismos. Só que nas últimas vezes, na Islândia, o que aconteceu é que os sismos pararam e só depois é que o vulcão entrou em erupção. Os cientistas islandeses estão a tentar descobrir se este declínio sísmico antes de uma erupção pode aplicar-se a vulcões semelhantes no Japão, na Rússia ou nos Estados Unidos.

 

É possível prever estes fenómenos?

A Islândia é um dos poucos países que monitoriza ativamente os seus vulcões, através de um extenso sistema de instrumentos altamente especializados (incluindo cabos de fibra ótica, que são mais finos do que um cabelo humano, e que são enterrados nos glaciares). E sim, isso permite-lhe prever as erupções e tomar medidas. Mas manter estes instrumentos fica caro e nem todos os países o podem pôr no topo das prioridades. Sendo que a falta de monitorização pode significar um desastre, como a explosão inesperada de 2018 na Indonésia, que matou 400 pessoas. Contas feitas, apenas cerca de 35% dos vulcões que entraram em erupção nos últimos 500 anos são monitorizados continuamente.

 

Texto: Catarina Silva
Foto: Jeremie RICHARD / AFP