Quem não vive no campo nem tem contacto com a indústria agropecuária habituou-se a ver vacas só na televisão e nos supermercados, onde os rótulos dos pacotes de leite e das embalagens de queijo as retratam como animais saudáveis e felizes, que passam o dia a comer erva fresca e a passear no prado. E tudo estaria bem, não fosse o mal que isso faz.
Isto porque o gado tem uma responsabilidade significativa no fenómeno das alterações climáticas, nomeadamente no aumento do buraco na camada de ozono. Como? Através da digestão.
Além do vapor de água, do óxido nitroso e do dióxido de carbono, cujos principais emissores são a produção industrial e o setor dos transportes, o metano é o gás que mais contribui para o efeito de estufa, até porque é 25 vezes mais potente do que o CO2. E adivinhem quem liberta muito metano para a atmosfera? As vacas! Daí alguns cientistas dizerem que as vacas poluem mais o ambiente do que os carros.
Além de terem um estômago diferente do dos outros animais (possui quatro compartimentos), as vacas têm microorganismos que as ajudam a degradar as plantas que comem. Esse processo orgânico liberta metano sob a forma de fezes, flatulência e, em 90% dos casos, eructação (arrotos).
De acordo com números do Instituto Nacional de Estatística relativos a 2016, havia, nesse ano, em Portugal, mais de um milhão e 600 mil cabeças de gado bovino, como vacas, bois e búfalos. E, segundo a Agência de Proteção Ambiental norte-americana, há no mundo inteiro cerca de 1,5 mil milhões de ruminantes de grande porte, sendo que, dizem os especialistas, cada animal liberta entre 250 a 300 litros de metano. O total de gás libertado é um número demasiado grande para o escrever!
Não é, portanto, de admirar que o setor agropecuário contribua com 18% das emissões de gases com efeito de estufa, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. A mesma instituição informa que a produção de gado emite cerca de 80% do metano produzido pelas atividades agrícolas e 35% das emissões por atividades humanas.
O que fazer para reduzir o impacto ambiental?
Reduzir o impacto ambiental provocado pelas emissões de metano está na lista de preocupações ambientais de cientistas e alguns governos. Para isso, há pelo menos dois caminhos a seguir: ou se diminui a quantidade de metano produzida ou se captura e utiliza o metano libertado.
Diminuir emissões
Cientistas alemães apresentaram, em 2007, um comprimido gigante à base de plantas que, combinado com uma dieta específica e horários de alimentação rigorosos, reduz a produção deste gás. Segundo os especialistas, em vez de ser expelido para o exterior, o metano é usado pelas vacas para produzir glicose e estimular o metabolismo.
Em 2015, uma equipa da Universidade da Pensilvânia, EUA, demonstrou ser possível reduzir a emissão de gases através de um inibidor de metano, inserido na comida dos animais, que atua diretamente nos tecidos do sistema digestivo e não afeta a qualidade do leite. Os resultados da investigação mostraram uma diminuição de 30% das emissões.
Utilizar o metano
Em alternativa, uma equipa de cientistas argentinos criou, em 2013, uma mochila ligada por um tubo a um dos compartimentos do estômago que recolhia os gases. Conseguiram, assim, coletá-los, tratá-los e usá-los com fonte de energia.
Além dos gases produzidos na digestão, as fezes das vacas também são uma fonte de metano. A criação de sistemas sem oxigénio de decomposição dos resíduos, por ação de bactérias, permitiria, por um lado, a eliminação de toxinas e, por outro lado, o aproveitamento do gás.
Há investigadores que defendem, no entanto, que a forma mais eficaz de reduzir as emissões de metano é reduzir o consumo de carne vermelha e produtos lácteos e, consequentemente, o número de vacas.
“A melhor maneira para repensarmos as alterações climáticas é reduzindo drasticamente a quantidade de carne ingerida pelas pessoas”, considera Ilmi Granoff, do Instituto de Desenvolvimento Ultramarino, sediado em Londres.