Aos sete anos dedica quarentena a ajudar os outros

Aos sete anos dedica quarentena a ajudar os outros

“Há meninos que não têm comida e, com o dinheiro que vou angariar, vou comprar e levar-lhes”, diz Maria, da Póvoa de Varzim. Sete anos de gente, segura do seu nariz e desenrascada q.b., a pequena decidiu dedicar a quarentena “a ajudar os outros”. Ora, “cada um luta com as armas que tem” e as de Maria foram bolos e desenhos: começou por levar “um miminho” a quem está “na linha da frente”; agora, vende desenhos a um euro.

Entre a telescola, os T.P.C. (trabalhos para casa), anotar os pedidos e fazer desenhos, às vezes até lhe “dói a mão”, mas a verdade é que Maria está “muito, muito feliz”.

Lá vai explicando como tudo começou, no início de abril: “Decidi fazer os bolos de laranja. As instituições trabalham de dia e de noite a cuidar dos que precisam e eu decidi levar-lhes ‘miminho’ para agradecer”. Levou um bolo aos bombeiros, outro ao INEM, a PSP foi buscá-lo a sua casa, que o vírus já ordenava o confinamento. “Vieram em duas carrinhas!”, conta, orgulhosa. O vídeo tornou-se viral. Foi visto por 64 mil pessoas.

Depois, bolos entregues, Maria decidiu não parar: gosta de desenhar. Vender desenhos e comprar comida para ajudar quem precisa – “sim, porque há gente que, com o vírus, ficou sem trabalho e não tem dinheiro” – pareceu-lhe “uma boa ideia”.

“Há os artísticos, os das gaivotas, os mais normais e os de roupa”, explica. À mãe, Alexandra Pereira, pareceu-lhe “uma loucura”, mas apoiou-a. Em 15 dias, já fez mais de 50. Ainda lhe faltam “mais de dez”.

“É encantador vindo de uma criança de sete anos”, diz Emília Godinho, que, aos 87 anos, saiu de casa para comprar um desenho. “Numa altura de tanto consumismo, uma criança com esta noção de partilha é de louvar”, completa a enfermeira Deolinda Nogueira, que ajudou Maria a encontrar uma família em dificuldades para entregar as compras que fará com o dinheiro dos primeiros desenhos. Continua a aceitar “encomendas”. Ajudará outros.

A quarentena solidária de Maria “tem passado a correr” e, aos sete anos, a pequena, que quer ser “futebolista e cientista”, soma seguidores no Facebook e no Instagram (amelhor maria_do_mundo). “Ninguém resiste a um coração tão grande!”, remata Deolinda, sorrindo, com a “lufada de esperança” que lhe trazem os “pequenos-grandes gestos” de Maria.

 

Texto: Ana Trocado Marques
Foto: Rui Oliveira/Global Imagens