Menina cega vai surfar na Califórnia

Menina cega vai surfar na Califórnia

Marta Paço de 13 anos, cega de nascença, é aluna do Surf Clube de Viana e vai competir num campeonato mundial

O mar é sinónimo de liberdade para Marta Jordão Paço. Invisual de nascença, natural de Outeiro, Viana do Castelo, esta menina de 13 anos encontrou no surf um caminho de felicidade e as portas abriram-se-lhe para participar no ISA World Adptative Surfing Championship, que vai decorrer de 12 a 16 de dezembro, em San Diego, na Califórnia.

Destemida, Marta desafia as ondas há dois anos, na escola do Surf Clube de Viana (SCV), pela mão do monitor Tiago Prieto. “Sempre gostei do mar, desde pequenina. Sinto-me feliz e livre”, contou, antes de entrar na água, na praia do Cabedelo. E só a perspetiva da participação no campeonato mundial já lhe mexe com os níveis de ansiedade: “Espero fazer ondas, conviver com pessoas de outros países, conhecer outras culturas, outras técnicas de surf e competir”, afirma Marta.

 

Na vida como no mar, a cegueira não a limita. Filha da presidente da associação de cegos e amblíopes Íris Inclusiva, canta num coro, toca piano e cavaquinho, joga golbol e ainda transmite ensinamentos: “Gostava de dizer a outros meninos como eu que não deixem que a deficiência comande a vida deles. Devem fazer o que querem, sem ligar ao que os outros dizem”.

 

A mãe, Dulce Jordão, de 42 anos, diz que Marta “tem uma energia fora do normal e nunca está de mal com a vida”. E medo é palavra que não existe no universo da menina. “Para mim é difícil, mas ela diz-me: ó mãe, no mar não há barreiras, não corro o risco de bater em nada. Acho que encontrou no surf o ambiente dela”. O monitor Tiago Prieto, que a guia na água há dois anos, afirma: “É um desafio e uma grande responsabilidade, porque, no fundo, eu sou os olhos da Marta. Mas é uma aprendizagem diária. Ela faz-nos acreditar que tudo é possível e faz com que os nossos problemas se tornem facilidades”.

 

Texto: Ana Peixoto Fernandes

Foto: Rui Manuel Fonseca / Global Imagens