#MeToo – mais de que um hashtag, um movimento que abanou o mundo

#MeToo – mais de que um hashtag, um movimento que abanou o mundo

Muitas pessoas, sobretudo mulheres, vêm finalmente contando o que calaram durante anos. Quebraram o silêncio, destaparam a vergonha, puseram o dedo na ferida. E nada fica como dantes.

Uma história, depois outra, e muitas outras se seguiram. O #MeToo trouxe à tona um problema sério da sociedade global: o assédio sexual, a importunação não consentida, a hostilidade sobre o corpo. Tudo começou nas redes sociais e não tardou a ganhar expressão nos jornais, nas revistas, nas televisões de todo o mundo. Tornou-se um movimento planetário e colocou muita gente a pensar em questões importantes que envolvem corpo, intimidação, medo, raiva, vergonha, poder.

Muitas pessoas, sobretudo mulheres, vítimas de assédio, denunciaram abusos, expuseram histórias. Convites inapropriados, propostas indecentes, toques desadequados, beijos forçados, contactos não consentidos. E milhões de pessoas, em todos os cantos do globo, levantaram a voz contra o abuso sexual.

O MeToo é um dos movimentos mais intensos das últimas décadas, que incentiva a partilhar o que se guardou para mostrar que vale a pena denunciar o que está mal. Que o corpo e a mente não podem ser invadidos de formas inapropriadas. Os casos que foram sendo revelados colocaram em xeque nomes do cinema, da política, do desporto. Destaparam a vergonha e muitas feridas. E, de repente, um hashtag conseguiu condensar histórias fortes e profundas e uma onda de solidariedade cresceu. Para teres ideia do impacto, 12 milhões de pessoas reagiram no Facebook em 24 horas e 500 mil no Twitter em apenas 12 horas. E, no mês passado, foi lançada uma campanha para angariar 25 milhões de dólares (quase 22 milhões de euros) para aplicar em ações que chamem a atenção para questões relacionadas com a violência sexual.

A expressão foi criada pela ativista americana Tarana Burke em 2006, numa campanha em que se envolveu para ouvir histórias de vítimas de violência sexual e combater o assédio. Mas foi um tweet da atriz Alyssa Milano, há cerca de um ano, que trouxe visibilidade ao tema. “Se todas as mulheres forem sexualmente assediadas escrevam ‘Me Too’ no seu estado, talvez as pessoas tenham a noção da magnitude do problema.” Esta foi a mensagem que escreveu. A partir daí, foi uma bola de neve. Um ano passou e muita coisa mudou.

 

Harvey Weinstein, o produtor de cinema

Primeiro, os holofotes caíram em cima do produtor de cinema de Hollywood Harvey Weinstein, acusado de assédio sexual por cerca de 70 mulheres. O caso criou um efeito avassalador. Várias atrizes, como Uma Thurman, vieram a público contar que tinham sido vítimas de vários tipos de abuso. E gerou-se uma onda de solidariedade.
A atriz Angelina Jolie também deu a cara pelo movimento e contou que tinha tido uma má experiência com um produtor de cinema e que nunca mais tinha trabalhado com ele. A cantora islandesa Björk veio igualmente a público, nas redes sociais, revelar que tinha sido vítima de abuso sexual por parte de um diretor dinamarquês, sem revelar o nome.

Trump, Spacey, ronaldo 

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, é acusado por várias mulheres de assédio e há gravações em que fala das mulheres de uma maneira pouco simpática. O ator americano Kevin Spacey também foi alvo de várias acusações de assédio e a sua carreira sofreu com isso: perdeu contratos e foi mesmo “apagado” de um filme em que participava. Cristiano Ronaldo enfrenta igualmente uma acusação de abuso sexual que o coloca no olho do furacão desta lista de assédio. O jogador tem referido que está de consciência tranquila.

Projeção

No ano passado, a revista “Time”, conhecida em todo o mundo, deu um grande destaque ao #MeToo, ao eleger como “Pessoa do Ano” todos aqueles, sobretudo mulheres, que quebraram o silêncio e denunciaram histórias de abusos sexuais. A “Time” evidenciou ainda o impacto do movimento que chegou a toda a parte.

Botões de pânico

Há quatro meses, em Chicago, Estados Unidos, foi aprovada uma lei que permite às empregadas dos hotéis carregarem num botão de pânico caso sejam atacadas por hóspedes. Há leis laborais que mudaram com o MeToo.

Texto: Sara Dias Oliveira