Porque choramos?

Já o ditado diz que chorar é lavar a alma. As lágrimas estão muitas vezes associadas a sensações negativas, mas a felicidade também nos pode levar a ficar com os olhos encharcados. Há muitas dúvidas, mas é certo que o choro dos humanos é algo distinto dos outros animais.

Se choramos por uma nota negativa num teste da escola ou se as lágrimas escorrem pela cara porque podemos finalmente abraçar alguém de quem tínhamos saudades, a composição química não parece ser diferente. É tudo a mesma gota de água, o que difere é a forma como é ativada pelo corpo.

Para perceber os mecanismos do choro, primeiro é necessário compreender que o sistema nervoso autónomo, que “faz a ponte entre o cérebro e o corpo”, está dividido em dois, explica Pedro Moreira, investigador da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. O sistema nervoso simpático “prepara-nos para a ação”, ou seja, deixa-nos alerta. “Já o parassimpático faz o contrário”, faz-nos relaxar.

Existem várias teorias sobre “qual dos sistemas é ativado quando choramos ou se há diferentes mecanismos entre uma experiência positiva ou negativa”. Umas defendem que “o choro resulta de uma pré-ativação simpática inicial que precede a ativação lacrimal”. Outras alegam que, mesmo com uma experiência negativa, no final ficamos descontraídos, e portanto há ativação do sistema parassimpático.

Pedro Moreira remata que, “ao longo dos estudos, o que parece acontecer é um balanço das duas teorias”, ou seja, uma junção dos dois sistemas, principalmente quando se trata de uma experiência negativa. Já com sensações positivas, o choro acontece de forma mais calma, pelo que o sistema nervoso simpático, que nos deixa alerta, nem é ativado. Mas não há certezas.

 

Lágrimas de alegria pouco estudadas

 

O choro é um assunto difícil de estudar, já que estão sempre a surgir mais dúvidas. Normalmente, para fazer investigação na área, as lágrimas são manipuladas através da visualização de vídeos emocionais, isto é, é induzindo “artificialmente um contexto de comoção”. Como não é fácil saber quando a pessoa vai chorar, a investigação em contextos não artificiais é “altamente desafiante”, sustenta Pedro Moreira, especializado em emoções e tomada de decisão. Outra limitação apontada pelo investigador é que muitos estudos são feitos “com recurso a emoções negativas, como o medo ou a tristeza”, não se sabendo com certeza de que forma o corpo reage quando a causa do choro é uma experiência positiva, como a felicidade.

A lágrima pode surgir por causa de emoções, mas também devido a dor ou por reação fisiológica. No entanto, em termos físicos, é sempre a “ativação muscular que faz com que apareçam lágrimas no rosto”. Já em termos psicológicos, o choro tem um papel social de avisar os outros que precisamos de ajuda.

 

E os outros animais

 

E nos adultos, diz Pedro Moreira, é algo “muito particular” e “altamente expressivo do ser humano”. Nas outras espécies, também existe a vocalização (ou seja, sons) do choro – com o objetivo de proteção e não por questões emocionais -, mas praticamente só se verifica nos primeiros anos de vida. A experiência de chorar nos humanos pode estar presente ao longo de toda a vida, mas vai mudando ao longo do crescimento. “Em idades infantis, é mais acústico, à medida que vamos evoluindo, a parte lacrimal é maior e o choro acústico perde força.”

 

Texto: Sara Sofia Gonçalves
Ilustração: Bárbara R.