Reportagem de alunas: O testemunho real de uma mulher sem abrigo

Reportagem de alunas: O testemunho real de uma mulher sem abrigo

“A gente nunca sabe o que nos pode acontecer” : O testemunho real de uma mulher sem abrigo

A Diana, a Margarida e a Joana são alunas da Escola Secundária Almeida Garrett – o tema dos sem abrigo interessou-as e foram para a rua fazer esta reportagem.

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Estivemos à conversa com uma senhora sem abrigo que nos relatou o que é, de facto, viver nas ruas!

Segundo dados da imprensa nacional, Portugal apresenta cerca de 8200 pessoas em situação de sem-abrigo, sendo que a sua grande maioria são homens com idades compreendidas entre os 45 e os 64 anos. Contudo, o número de mulheres que vivem na rua tem vindo a aumentar, o que demonstra que existe uma necessidade urgente de reverter esta situação.

A vida de Maya (nome fictício para proteger a sua identidade) tem sido bastante conturbada, desde muito jovem. Com apenas 9 anos de idade, perdeu a sua mãe; teve, por isso, necessidade de começar a trabalhar com apenas 16 anos. Trabalhava ao mesmo tempo que estudava, o que dificultou a conclusão do 12º ano, finalizado anos mais tarde. Maya contou-nos que teve uma relação durante 19 anos, da qual tem duas filhas “namorei 5 anos, casei, contudo, o pai das minhas filhas é uma pessoa com vícios, complicou-nos muito a vida”.

Assim, Maya acabou por pedir o divórcio, e iniciou-se um conflito parental que culminou com a perda da guarda das suas filhas, sentindo-se injustiçada pelo facto de ambas lhe terem sido retiradas, visto que tinha, até então, todas as condições para as conseguir criar, pois trabalhava e tinha estabilidade económica. Contudo, em 2020 a sua vida começou a complicar-se ainda mais, pois perdeu o seu emprego, foi desalojada e, por isso, ficou condicionada a viver, até hoje, no seu carro.

Maya relatou-nos que nunca pensou viver na situação em que se encontra. Diariamente, dorme no seu carro, em parques de estacionamento, com todos os pertences que lhe restam dentro da viatura. Consome apenas uma refeição por dia, que é oferecida pela AMI – Assistência Médica Internacional – uma associação que procura intervir em situações de crise humanitária. É graças a esta instituição que tem acesso a produtos de higiene, contudo, refere que é necessário muito mais apoio por parte de todos nós para que estas pessoas consigam ter uma vida minimamente condigna, pois a sua única fonte de sustento é o rendimento social de inserção (RSI), inferior a 200 euros.

Maya relatou-nos algumas dificuldades vivenciadas na rua, nomeadamente, a discriminação que sofre por parte de inúmeras pessoas que a olham com indiferença. Referiu que já foi assediada e tenta fugir ao máximo desta situação, levando o seu carro para outro ponto da cidade do Porto e assegurou-nos que a questão do assédio, comparativamente com os sem-abrigo homens, é muito mais evidente. Para além deste problema, mencionou, ainda, a dificuldade que sente na aquisição de medicamentos, tão necessários para o seu bem-estar.

No final da conversa, sugerimos a Maya que deixasse uma mensagem aos leitores desta reportagem, à qual respondeu o seguinte: “O que poderei dizer é que as pessoas não devem discriminar os outros pelas situações que passam, porque a gente nunca sabe o que nos pode acontecer!”

Importa pois, refletirmos sobre a temática das pessoas sem-abrigo, percebermos as suas necessidades e dificuldades diárias e colaborarmos, de alguma forma, na minimização dos seus problemas.

Seja atento/a!

Texto: Diana Martins, Joana Ferreira e Margarida Costa