A Amazónia definha e o Mundo assiste de braços cruzados

A Amazónia definha e o Mundo assiste de braços cruzados

O pulmão da Terra perde fôlego, população, árvores e animais. A cimeira que debateu a sua situação terminou há dias, no Brasil, sem metas concretas para travar a desflorestação. O que se passa, afinal?

A maior floresta tropical do Planeta

A Amazónia é grande, muito grande, com uma superfície de cerca de sete milhões de quilómetros quadrados, estende-se por vários países com o Brasil à cabeça com 60% desse território, seguido do Peru com 13%. Colômbia, Venezuela, Equador e Bolívia são também “banhados” por esta floresta, em menor proporção. A Amazónia tem muito peso, representa 67% das florestas tropicais de todo o Mundo e tem 25 mil quilómetros de rios navegáveis – além do rio Amazonas, o segundo mais extenso da Terra, que percorre a zona e desagua no Atlântico. É uma região com cerca de 20,3 milhões de habitantes (sensivelmente o dobro de Portugal).

 

Os maiores perigos (e todos com mão e cabeça humanas)

 

A desflorestação da Amazónia é o maior problema, detetado, registado, comentado, analisado. Mas não resolvido. Cortam-se árvores, destrói-se biodiversidade, calcam-se recursos naturais, asfixia-se um ecossistema em nome do que muitos dizem ser o progresso civilizacional. Onde há floresta, pode haver estradas, indústrias, casas, hotéis. A exploração de petróleo é outra realidade, outra preocupação. Fala-se no assunto e faz-se silêncio depois.

A exploração mineira também está a destruir este pulmão, talvez o maior da Humanidade. Garimpeiros saem das zonas delimitadas para procurar metais preciosos, ouro sobretudo, e assim a desflorestação aumenta, águas ficam contaminadas e, mais terrível ainda, fala-se de violência contra comunidades indígenas. E, uma vez mais, faz-se silêncio. Devasta-se vegetação para instalar gado e expandir a indústria agropecuária. Nascem campos de soja. Por último, e não menos importante, a impunidade dos crimes ambientais tornou-se regra, desprotegendo completamente um ecossistema tão importante para o Planeta.

19% da floresta Amazónia ardeu entre 1985 e 2022, segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazónia, organização não-governamental, com base em imagens de satélite. São quase 810 mil quilómetros quadrados de terra queimada. É muita coisa.

 

Esperanças caem por terra

A Cimeira da Amazónia, realizada este mês, reuniu oito países do Tratado de Cooperação Amazónica (Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Guiana, Suriname e Venezuela) para debater vários temas. O acordo sabe a pouco. Há alguns avanços, como a criação de mecanismos financeiros para promover o desenvolvimento sustentável e para combater crimes ambientais, mas não há um compromisso comum e concreto para travar a desflorestação da Amazónia.

 

A destruição e o Brasil

No ano passado, registou-se o quinto recorde anual consecutivo no desmatamento da Amazónia, 10 573 quilómetros quadrados devastados, a maior destruição em 15 anos. O Brasil vai colocando o tema na agenda, mostra preocupação com o definhar do extenso pulmão verde, mas pouco tem feito para proteger este habitat que também é morada de gente. O apelo aos líderes internacionais para salvar a Amazónia foi feito na cimeira. Vamos ver se alguma coisa acontece.

 

Os indígenas são muitos, mas não eram contados

Há cerca de 1,7 milhões de indígenas no Brasil, 0,83% da população do país. Um salto de 88,8% de 2010, em que tinham sido contados cerca de 890 mil indígenas, para 2022, quando foram feitos os últimos censos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Não que esta população não existisse, só não era contabilizada.

 

“A Amazónia é o nosso passaporte para uma nova relação com o Mundo, uma relação mais simétrica, em que nossos recursos não são explorados para beneficiar poucos, mas valorizados e colocados ao serviço de todos”
 Lula da Silva, presidente do Brasil

 

Texto: Sara Dias Oliveira
Foto: Alan Chaves/AFP