Árvore de Natal: A tradição que veio da Alemanha

Árvore de Natal: A tradição que veio da Alemanha

A árvore de Natal decorada para a quadra, luminosa e brilhante, cheia de enfeites, com prendas aos pés, marca uma época alegre e vivida em família. Mas de onde é que ela veio? Como apareceu?

Origem religiosa, costume pagão

Reza a história que a tradição da árvore de Natal vem de um costume dos povos germânicos que acreditavam que colocar galhos de pinheiros em casas e aldeias os protegia de maus espíritos. E assim agiam na altura do solstício de inverno. O verde das árvores e das plantas era símbolo de vitalidade e fertilidade para essas gentes. O Natal é uma festa religiosa, que celebra o nascimento de Jesus, e o ritual da árvore é um ritual pagão. Parece estranho, mas não é.

Recuando vários séculos, a 1419, menciona-se uma árvore festivamente decorada com frutas e nozes por padeiros da cidade de Friburgo, na Alemanha, por altura do Natal. No ano novo, as crianças balançavam essa árvore e comiam o que dela caísse. E foi na Alsácia, agora francesa, outrora alemã, que surgiu a árvore de Natal caseira na sala de estar e decorada com doces, nozes e maçãs.

Em 1539, refere-se uma árvore de Natal na catedral de Estrasburgo. Em 1570, dá-se nota de um pequeno pinheiro decorado com maçãs, nozes, tâmaras, flores de papel em Bremen, na Alemanha. Anos mais tarde, em 1597, fala-se de alfaiates que decoravam árvores com maçãs e queijos. E diz-se ainda que terá sido Martinho Lutero, monge e professor alemão, líder da Reforma Protestante, que viveu entre os séculos XV e XVI, a introduzir a moda de uma árvore com brilho. Conta-se que inspirado pela beleza das estrelas entre os galhos de um pinheiro, resolveu decorar uma árvore em casa com velas para tentar reproduzir a imagem que tanto o tinha encantado, partilhando assim a sua experiência com a família.

 

Pela Europa, de realeza em realeza

Vários nobres alemães mantinham contactos e laços com outras cortes reais europeias e, dessa forma, a tradição da árvore de Natal espalhou-se gradualmente por outras paragens, no início do século XIX. E não só. Soldados alemães que emigraram para os Estados Unidos levaram essa prática e ela implementou-se de tal forma que, em 1891, a Casa Branca teve o seu primeiro pinheiro de Natal. E foi nos EUA que apareceram as primeiras árvores com luzes elétricas.

No século XX, a árvore de Natal estava em todo o lado, em todo o Mundo, muito à custa da divulgação feita pelos meios de comunicação, sobretudo pelas emissões televisivas, que despontavam na década de 1960.

 

O rei-artista e suas raízes

D. Fernando II, nascido em Viena de Áustria, rei de Portugal pelo casamento com a rainha D. Maria II, trouxe algumas das suas recordações a este cantinho da Europa. Em meados do século XIX, incorporou a árvore de Natal e as coroas do advento no nosso país. D. Fernando II tinha veia artística, dedicava-se à pintura e à música, era um rei-artista. Conta-se que, na sua infância, comemorava o Natal como mandava a velha tradição germânica, ou seja, com um pinheiro decorado com velas, bolas e frutos dentro de casa. Com o nascimento dos seus filhos, e imbuído pelo espírito natalício, iluminou o palácio com esses costumes. Há registos e gravuras com el-rei vestido de S. Nicolau a distribuir prendas aos filhos na festa de Natal, celebrada em família na corte portuguesa.

 

Todos os tamanhos, todos os feitios

Natal que é Natal tem árvore, pois claro. Grandes, pequenas. Naturais ou artificiais. De vários materiais, cerâmica, madeira, plástico. De várias cores, a paleta diversificou-se ao longo dos anos. Enfeitadas com tudo o que se quiser porque a imaginação não tem limites e o mercado não pára. Sistemas de luzes para todos os gostos. Bolas transparentes, opacas, com ou sem brilho. Fitas douradas ou prateadas, figuras alusivas à quadra feitas de tecido, de papel, de barro. Anjos, pais natais, estrelas, meias, hienas, corações, bonecos de neve, fotografias, chocolates. Tudo o que se quiser nesse vasto mundo dos ornamentos natalícios. Voltando à tradição, a estrela que se coloca no topo da árvore significa, segundo histórias antigas, a estrela de Belém que guiou os reis magos ao local onde Jesus nasceu.

 

Texto: Sara Dias Oliveira
Foto: Nasjonalbiblioteket/wikimedia