Ataques de orcas no mar. O que se passa afinal?

Ataques de orcas no mar. O que se passa afinal?

Os incidentes entre estes cetáceos e barcos na costa portuguesa e espanhola têm vindo a aumentar e gerado medo. Fica a saber quando é que isto começou, quais as conclusões da ciência até agora e por que é que não devemos fazer-lhes mal.

 

O fenómeno começou em 2020 e cresceu

 

Nos últimos três anos, as orcas têm atacado os barcos com que se cruzam ao largo da costa da Península Ibérica. Certamente já ouviste falar deste fenómeno que tem chamado a atenção da ciência e, claro, tem causado medo (e muitos prejuízos) entre os velejadores e pescadores que circulam em embarcações nesta zona. Mas vamos ao princípio de tudo. O primeiro ataque de que há registo aconteceu no estreito de Gibraltar, em maio de 2020, e foi levado a cabo por um grupo de três orcas que estão identificadas. O problema é que desde então o grupo cresceu e os casos multiplicaram-se. Na maioria deles, as orcas atacam os lemes de pequenos veleiros de forma organizada. Só neste ano, até julho, na costa portuguesa, já se contabilizaram 30 incidentes. E nos últimos três anos os ataques mais do que triplicaram na costa ibérica (Portugal e Espanha). Ao todo, houve mais de 450 incidentes, 142 deles no nosso país, onde duas embarcações já naufragaram na sequência disso.

 

Porque será que as orcas fazem isto?

 

Ainda ninguém sabe ao certo. Mas há várias teorias e a ciência tem estado atenta. Sabe-se que, até agora, os ataques envolveram nove destes cetáceos em dois grupos: um trio, por vezes um quarteto, de orcas jovens e outro grupo de diferentes idades liderado por uma fêmea adulta chamada White Gladis. Há cientistas que acham que ela pode ter estado envolvida num acidente com um navio, por ter ferimentos compatíveis com essa hipótese. E que, desde essa experiência traumática, assumiu um comportamento de retaliação. Até porque estas orcas dirigem-se sempre ao leme das embarcações e não parecem ter interesse nas pessoas a bordo, nem sequer quando elas passam para barcos salva-vidas. A tese dos especialistas é que, uma vez que White Gladis é a única fêmea adulta no grupo, o comportamento dela começou a ser copiado, imitado pelas orcas mais jovens e espalhou-se. Uma coisa é certa, velocidade e ruídos despertam sempre interesse nestes animais – e podem ser fatores de stress.

 

Não estarão só a brincar?

 

Também é uma resposta possível. Há cientistas que dizem que, de facto, as orcas podem atacar os lemes só porque é divertido. E se estiverem realmente a brincar, o mais provável é que acabem por se fartar com o passar do tempo. É comum populações de orcas adotarem novos comportamentos sem qualquer razão óbvia, para além da diversão e subitamente deixarem de os ter e adotarem outros. São brincadeiras, os investigadores de orcas chamam-lhes “modas”. Porém, é difícil que algum dia venhamos a conhecer a verdadeira motivação para comportamentos como estes. Porquê? O cérebro destas “baleias assassinas” está a evoluir há milhões de anos, é muito complexo pôr uma baleia dentro de um equipamento para estudar o seu cérebro e nem sequer se sabe que partes dele estão envolvidas em determinadas atividades. Já é suficientemente difícil explicar os comportamentos dos seres humanos, imagina das orcas.

 

As orcas são baleias assassinas?

 

Apesar de serem conhecidas como “baleias assassinas” as orcas não são baleias. Integram a família dos golfinhos, a orca é, aliás, considerada o maior golfinho que a ciência conhece. Estes animais, que podem medir até nove metros e pesar até seis toneladas quando adultos, são conhecidos por serem muito inteligentes e pelas espetaculares técnicas de caça, desde virar tubarões-brancos do avesso a trabalhar em conjunto para capturar baleias de grande porte. Há uma nota que importa saber: as orcas são uma espécie protegida e estão ameaçadas de extinção. A sua captura ou ferimento são atualmente práticas proibidas. Estes ataques podem assustar-nos, mas convém recordar que são os barcos que invadem o ambiente, ou melhor, a casa destes animais. De qualquer forma, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e a Marinha vão testar engenhos que podem vir a impedir os ataques.

Texto: Catarina Silva