“O Diário de Anne Frank”
Querida Kitty
“Espero poder contar-te tudo como nunca pude confiar em ninguém,
e espero que venhas a ser uma grande fonte de conforto e de apoio ”
12 de junho de 1942“É estranho uma pessoa como eu manter um diário; não apenas por falta de hábito,
mas porque me parece que ninguém – nem eu mesma – poderia interessar-se
pelos desabafos de uma miúda de treze anos.
Mas que importa? Quero escrever e, mais do que isso,
quero trazer à tona tudo o que está enterrado bem fundo no meu coração”
20 de junho de 1942
Estas são passagens das páginas iniciais de um precioso diário de uma jovem de 13 anos, dirigidas à sua nova amiga Kitty. A relação entre as duas ficou para sempre ligada a este diário e gerou nos últimos tempos outra história singular.
Anne Frank nasceu a 12 de junho de 1929 e, em 1942, pelo seu aniversário, recebeu uma prenda especial: um diário!
Antes de avançarmos, explico-te o que é um diário, porque também tu podes ter um. Arranjas um caderno e escreves lá periodicamente (todos os dias, por exemplo), contando o que aconteceu nesse dia, reflexões, as tuas emoções, os teus segredos, comentários, colas fotos, fazes desenhos, registas códigos especiais… Faz de conta que esse caderno é o teu confidente e “conversa” com ele. Até podes inventar um nome. Em cada momento, arrancas o teu texto escrevendo a data e, na linha a seguir, podes fazer uma saudação ao teu/tua amigo(a) imaginário(a) (por exemplo, “Querido diário”. Este tipo de escrita tem um carácter intimista, de relato muito pessoal. Existem à venda diários com uma chave, cadeado ou fecho com código, para se poder fechar literalmente o caderno e assim mais ninguém o poder ler.
Anne recebeu o seu diário e inventou uma amiga, a Kitty, a quem fazia todos os tipos de confidências.
Afinal, só a Kitty conheceu a fundo a Anne. Por exemplo, só ela sabia da sua paixoneta por Peter. Durante dois anos, Anne vai aí escrevendo e “conversando” com a Kitty sobre o que acontece consigo e com a sua família durante o período pior da II Guerra Mundial. Por serem judeus, Anne e a família sofreram na pele a violência e discriminação do nazismo, tiveram de se refugiar num esconderijo em Amesterdão (Países Baixos) com outras famílias, mas acabaram por ser denunciados e Anne terminou os seus dias no campo de concentração de Bergen-Belsen (Alemanha), antes da guerra acabar em 1945.
Anne relatou à Kitty os seus conflitos e amores de adolescente, a tensão de viver escondida sobrevivendo com a comida armazenada, a ajuda recebida de amigos, o sofrimento da guerra, os bombardeamentos, o terror de serem descobertos e mortos ou presos.
Se, ao princípio, ela só queria o diário para ir escrevendo as suas impressões diárias, mais tarde, começou a pensar em o transformar num livro, só que tudo acabou abruptamente com a sua prisão e morte. O seu pai, o único sobrevivente da família, encontrou o seu diário e concretizou o seu sonho, abrindo aquelas páginas ao mundo, com o impacto das palavras de uma adolescente que assim testemunha a crueldade e violência da guerra a chegar a todos para que nunca esqueçamos que entre a humanidade e a desumanidade, as fronteiras são muito estreitas e a História está aí para nos provar que os homens não aprendem e repetem os mesmos erros. Veja-se o caso do atual clima de guerra entre a Rússia e a Ucrânia, gerador de tanta violência e injustiça sobre vítimas inocentes.
Atualmente, “O diário de Anne Frank”, mais do que meras páginas de uma adolescente, é uma obra inspiradora de um dos períodos macabros da História do século XX, acarinhada e conhecida em todo o mundo e traduzida em muitas línguas.
Podes ver aqui um documentário que te explica melhor toda a história desta miúda tão especial.
Agora, “O diário de Anne Frank” também já tem uma adaptação em banda desenhada, lançada em 2017 em Portugal, da autoria de Ari Folman e com ilustrações de David Polonsky.
Ari Folman também realizou o filme de animação “À procura de Anne Frank”, em 2021, uma história baseada na amiga imaginária de Anne, a Kitty, que “acorda” nos nossos dias. Num passe de mágica, Kitty ganha uma vida de carne e osso. Não sabendo o que sucedeu a Anne, sai da casa em Amesterdão e vai à sua procura, pensando que ela ainda está viva. Pelo caminho, “choca” com as mudanças que o tempo provocou nas pessoas, na civilização e apercebe-se do impacto que o diário da sua amiga continua a representar para as crianças de todo o mundo.
Vê o trailer:
Para terminar, também está disponível o livro “À procura de Anne Frank”, do mesmo autor, com ilustrações de Lena Guberman. Trata-se de uma adaptação em BD da história do filme.
Texto: Maria José Pimentel