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Fogo que arde e que se vê

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EPA/VASSILIS PSOMAS

Grécia e Suécia estão a renascer das cinzas depois de terem sido varridos por incêndios avassaladores na semana passada. Há um novo fenómeno a nascer nas florestas.

Nas últimas semanas, quando ligaste o televisor, a Grécia entrou-te pela casa. E pelas razões mais tristes: uma parte de um país desfeito pelas chamas. O que te vem à memória? Isso, Pedrógão Grande, no ano passado, em Portugal.

Chamas altas, incêndios que se propagam por extensas áreas de floresta, que atingem as zonas mais inóspitas, com pouca população. Este fogo lavra com pujança e tem como adjuvantes a força do vento e a baixa precipitação. Os terrenos estão cada vez mais secos porque chove pouco e as temperaturas variam muito. Não interessa o país ou se é uma sociedade mais evoluída do que a outra. O fogo não discrimina.

Filipe Duarte Santos, geofísico especialista em alterações climáticas explica ao TAG por que é que o fogo tem ganho pontos na luta contra o Homem: “A Grécia teve um inverno seco. Se o mato está seco, e se juntarmos a isto as temperaturas elevadas, os incêndios lavram, e são difíceis de apagar. Tornam-se frequentes.” Depois, faz o contraponto com a Suécia, onde “existem muitas florestas” e “raramente há secas com períodos de precipitação”. Mas, alerta Duarte Santos, “as alterações climáticas aumentam as ondas de calor, o que muda todo o cenário: a Suécia, onde há precipitação, deixou de a ter, há muito que não chovia. As trovoadas secas, consequência do calor, contribuem para a ignição numa floresta, onde o fogo arde depressa, porque a biomassa arde facilmente”. É este o desafio das alterações climáticas que o mundo procura remendar através do Acordo de Paris das Nações Unidas.

 

Mais potentes  do que a bomba atómica

A intensidade de calor emitida pelos incêndios de junho e outubro em Portugal em 2017 foi, respetivamente, 68 e 142 vezes superior à da bomba atómica de Hiroshima. No episódio de outubro, além disso, foi registada a maior taxa de área queimada por hora – mais de 14 000 ha/h. As condições eram favoráveis ao fogo, que crescia sob as trovoadas quentes. O problema instalou-se quando a mudança nas condições climáticas começou a dificultar a combustão, o fogo não conseguiu sustentar energia suficiente para aguentar a convecção (transmissão de calor no estado líquido) e a nuvem de tempestade condensou-se. Isto fez com que os ventos atingissem até 100 km/h, alargando as chamas em todas as direções. A partir desse momento, o fogo começou a crescer desproporcionalmente, queimando 4800 hectares em 21 minutos e ceifando vidas.

 

 Uma nova geração de incêndios

9Este é um novo fenómeno, e é isto que o norte da Europa e a Grécia estão a viver. Uma nova geração de fogos que tem a ver com a situação meteorológica atual, em que crescem colunas dinâmicas geradoras de propagação de convecção, ou seja, das ondas de calor transportadas nos fluidos do ar, atravessando a troposfera (a camada mais baixa da atmosfera terrestre). Na presença de humidade e frio nas camadas superiores, a condensação da coluna de convecção faz com que deixe de funcionar, o que ao nível da superfície tem um efeito multiplicador sobre a área de expansão do incêndio. Resultado: o fogo inicial causa centenas de outros incêndios.

 

 E há soluções para evitar estas tragédias? 

A resposta de Filipe Duarte Santos é pronta: “Emitindo menos gases com efeito estufa para a atmosfera. Dependermos menos dos combustíveis fósseis. Apostar nas energias renováveis.” Os intensos fogos ocorreram no ano passado em Portugal, agora na Grécia, e na Suécia, mas este é um problema global. Duarte Santos diz que “não basta a União Europeia esforçar-se, é necessário que o mundo inteiro vá na mesma direção”. O dedo está apontado a todos: “Temos uma enorme dependência dos combustíveis fósseis. Cerca de 80% das fontes primárias da energia são combustíveis fósseis: carvão, petróleo e gás natural. A mudança é difícil, mas se não se fizer a transição [para as energias

 

Joana M. Soares