Têm estado na ribalta por causa de uma rebelião (fracassada) contra as chefias militares russas. Mas afinal, quem são? O que fazem? E que papel têm tido na guerra da Ucrânia?
Protesto interrompido
No último sábado, 24 de junho, Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, convocou mais de 25 mil mercenários para uma revolta contra os altos comandos militares da Rússia. Chamou-lhe “marcha pela Justiça”, mas o protesto chegou a dar ares de golpe de Estado. Os militares partiram da Ucrânia, reclamaram o controlo de Rostov, uma cidade russa com um milhão de habitantes, e percorreram centenas de quilómetros com pouca oposição, acabando por recuar quando se encontravam já a 200 quilómetros de Moscovo. “Para evitar um banho de sangue”, justificaram.
Uma revolta anunciada
Dias depois, Prigozhin garantiu que a marcha não teve nunca como intenção derrubar o governo russo, mas antes evitar a destruição do grupo Wagner. O mal-estar entre os paramilitares e as chefias militares russas já se fazia sentir há meses, com críticas públicas do chefe dos mercenários à falta de apoio por parte das chefias estatais, mas escalou com a pressão do Governo para que o grupo assinasse contratos com o Ministério da Defesa e quando Prigozhin acusou os militares de promoverem um ataque contra o seu grupo.
Recrutados nas prisões
À medida que a coluna de paramilitares progredia, chegou a colocar-se um cenário em que Vladimir Putin, o presidente russo, cairia e o grupo Wagner reforçaria o seu poder. Mas seria isso uma boa notícia? Deixamos-te aqui alguns dados que falam por si.
Em teoria, falamos de um exército privado de mercenários. Na prática, é sabido que os paramilitares, grande parte deles recrutados nas prisões, atuam como um braço armado de Putin em vários territórios de interesse estratégico para os russos – da Líbia à Síria, do Sudão à República Centro-Africana. E as acusações que pairam sobre a forma como o fazem são mais que muitas: roubos, violações e assassinatos de civis, plantação de minas e outros artefactos explosivos nos territórios por onde vão passando, tortura. Como vês, estão longe de ser os bons da fita.
E Prigozhin?
A história do líder do grupo é curiosa. No espaço de uma década, passou de recluso a responsável pelo serviço de catering do Kremlin (a sede do Governo russo). Consta que quando saiu da prisão foi trabalhar como vendedor de cachorros-quentes, mas o negócio depressa evoluiu para um serviço de catering. Depois, abriu um restaurante que passou a ser frequentando pelas elites da cidade. Putin incluído. Os dois haveriam de ficar tão próximos que Prigozhin ainda hoje é conhecido como o “chef de Putin”. E depressa se tornou mais um oligarca (pessoa que pertence a um grupo restrito que detém o poder) russo. Hoje, é dono de empresas nos setores do audiovisual, mineração e consultoria. Além da área militar.
O papel na guerra
Os mercenários do Wagner constituem uma parte importante do contingente militar russo estabelecido na Ucrânia (cerca de 10%) e têm desempenhado um papel fundamental nas manobras de guerra, sobretudo ao nível da região do Donbass. Entre outras ações, crê-se que tenham estado envolvidos numa série de ataques de “bandeira falsa”. Ou seja: terão promovido certos ataques militares com o objetivo de culpar a Ucrânia, dando à Rússia um “pretexto” para retaliar.
Texto: Ana Tulha
Fotos: Roman Romokhov/ AFP