Massacre em Timor aconteceu há 30 anos

Massacre em Timor aconteceu há 30 anos

Timor-Leste é atualmente um país independente do Sudeste Asiático que ocupa metade da ilha de Timor. O resto da ilha pertence à Indonésia.

Em 1991, uma tragédia na capital, Díli, fez acordar o mundo para o que estava a acontecer em Timor. Foi preciso agir, ajudar o povo maubere e obrigar as forças dominantes a deixarem aquela terra.

Voltemos um pouco mais atrás. Após a Revolução do 25 de Abril, Portugal declarou a independência de todas as suas posses em África em 1975. Assim, todas colónias que haviam pertencido ao antigo Império Português transformaram-se em países. Todas as colónias? Não! Timor foi imediatamente invadido pela Indonésia e começou uma guerra entre os ocupantes e a resistência timorense, Fretilin. O povo ficou à mercê do exército e das políticas da Indonésia: havia perseguições, prisões e mortes frequentes e muito medo.

Os indonésios proibiram o uso do português e desencorajaram o uso de tétum, o dialeto timorense, censuraram a imprensa e impediram que entrassem no território observadores internacionais. Portugal, embrulhado num momento revolucionário conturbado, não conseguiu proteger o território e assim se passaram os anos…

Até que no dia 12 de novembro de 1991, no cemitério de Santa Cruz, em Díli, os militares indonésios investiram contra manifestantes pró-independência indefesos, muitos deles jovens, durante uma missa de homenagem a um rapaz membro da resistência que havia sido assassinado.

Foi um tiroteio que fez cerca de 300 a 400 vítimas mortais e muitas centenas de feridos. Felizmente, um repórter de imagem, Max Stahl, fazia a cobertura da homenagem e filmou o massacre. Este era apenas mais um dos muitos massacres em Timor, que perdeu um terço da população durante os anos de ocupação indonésia, mas foi o pontapé de saída para o fim daquela era de opressão: as filmagens correram mundo e deram origem a uma onda de manifestações e gestos simbólicos de solidariedade para com o povo timorense. Em Portugal, a população aderiu a iniciativas diversas para se associar a essa onda de indignação: nas escolas, nas varandas, por toda a parte estenderam-se lençóis brancos, muitos com mensagens apelativas. O cantor Rui Veloso compôs e interpretou a música “Maubere” a favor da causa timorense em 1992.

Depois, quase todos os países passaram a apoiar Timor-Leste e reconheceram o direito daquele povo decidir se queria ser independente, num referendo em 1999, onde o “Sim” ganhou expressivamente. Timor-Leste tornou-se oficialmente um país independente a 20 de maio de 2002. Nesse dia, uma canção ganhou particular destaque na cerimónia, como um símbolo eterno da resiliência deste povo – foi a canção “Timor”, nascida em 1988 pela voz do grupo Trovante.

Dia 12 de novembro ficou para sempre como o Dia da Juventude celebrado em Timor-Leste, recordando a massa de jovens que lutou e sofreu para denunciar as inúmeras violações aos Direitos Humanos no seu território.

Max Stahl, o jornalista que fez despertar o mundo para os horrores e sofrimento daquele povo, foi condecorado com o Colar da Ordem da Liberdade. Morreu no passado mês de outubro.

Massacre de Santa Cruz revisitado pela RTP

 

Texto: Maria José Pimentel