Este ano não há Carnaval no sentido tradicional em que o conhecemos e festejamos, saindo à rua para brincar em desfiles e bailes, devido às restrições que a pandemia impõe. Mas a data deve ser “esquecida”? Não, considera a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos. E explica ao TAG porquê: “Temos o direito a que o Carnaval seja o prazer de nos mascararmos. Os miúdos adoram mascarar-se! Não será um ato público porque esse está proibido para toda a gente mas isso não quer dizer que as crianças não gostem de se mascarar e não gostem de se mascarar para a família”.
A médica especialista em psiquiatra da infância e adolescência diz que “é preciso ter qualidade de vida e ainda mais agora, com aulas em casa e teletrabalho”, quando as famílias estão juntas 24 sobre 24 horas. “Em vez de dizerem: ‘este ano não podemos ir ao Carnaval’ o ideal seria os pais dizerem: aqui na nossa casa vamos festejar o Carnaval, não podemos ir lá para fora mas podemos festejar”, aconselha.
A psicóloga Carla Pacheco reforça que “num momento em que nos encontramos limitados na nossa capacidade de socializar e no qual, a maior parte das nossas rotinas, tradições e rituais tiveram de ser alteradas, é fundamental que estes marcadores temporais sejam celebrados, assumindo-se como âncora emocional”. Ainda para mais, acrescenta, “o Carnaval é uma celebração muito ligada à infância, pois na sua origem está a fantasia, a alegria e o jogo – componentes centrais da vida emocional da criança”.
E que máscara usar? A do ano passado já não serve? As lojas estão fechadas e não dá para ir comprar? Ana Vasconcelos dá uma ideia: “Será uma altura gira para as pessoas voltarem às mascaras antigas, que era a gente mascarar-se com os fatos dos nossos pais ou dos nossos irmãos mais velhos.” É brincar ao faz de conta e dar asas à imaginação. “E porque não os pais também se mascararem?”, desafia a pedopsiquiatra. “É um momento de união, de prazer da vida familiar em tempos de pandemia. É positivo que o façam para fortalecer a qualidade de vida em casa”.
A brincar a brincar, “está-se a contribuir para estreitar laços, reforçar a identidade e o sentimento de pertença da criança ao seu núcleo familiar”, sublinha Carla Pacheco. “Criar a máscara da criança em conjunto (materiais reciclados)” é uma sugestão da psicóloga, assim como “fazer uma galeria (física ou virtual) com fotografias de familiares e amigos mascarados ao longo dos diferentes anos e pedir a cada um que conte uma pequena história sobre o momento em que a fotografia foi tirada”. Outra possibilidade é “combinar um encontro por videochamada entre as famílias amigas para que as crianças possam partilhar as suas máscaras e celebrar”.
Vai ser um Carnaval diferente? Vai, “mas a pandemia não mata o sonho, não mata a vontade das pessoas se divertirem”, conclui Ana Vasconcelos.
Texto: Sandra Alves
Foto: Miguel Pereira/Arquivo Global Imagens