Cuba viveu das maiores manifestações populares das últimas décadas. Os cubanos reclamam saúde, liberdade e melhores condições. As crises económica e sanitária causadas pela covid catalisaram o descontentamento causado pelo embargo americano.
Cuba tem vivido debaixo de uma crise económica que a pandemia de covid-19 veio agravar. Escassez de alimentos e medicação, apagões na eletricidade e na Internet e elevada inflação (subida de preços) são algumas das queixas dos habitantes da ilha situada no centro do continente americano.
Com início num pequeno município de 50 mil habitantes, San Antonio de los Banos, Cuba assistiu, no passado dia 11, a importantes protestos contra o Governo. As redes sociais foram essenciais para a união da população, que foi sabendo de manifestações em cidades vizinhas e replicando nas suas. No total, meia centena de regiões de Cuba foram palco de ações populares. Um número indeterminado de protestante foi detido.
Esta semana, foi celebrado pelo Executivo cubano o 62.º aniversário da revolução que terminou com a ditadura de Fulgencio Batista e que levou ao poder o partido único que governa o país desde então. Forte presença policial dissuadiu a realização de manifestações, mas os ativistas afirmam que vão retomar os protestos assim que surgir um momento oportuno. O dia ficou marcado por uma tomada de posição de 20 países, liderados pelos Estados Unidos, a apelar às autoridades de Cuba para que respeitem os direitos humanos e libertem os detidos após os protestos antigovernamentais.
Apesar de a motivação para o descontentamento popular ser a crise económica e sanitária, as palavras de ordem que mais ecoaram pelo país foram “liberdade” e “abaixo a ditadura”. Isto porque o povo não só culpa o Governo pela situação social e económica difícil, mas também se queixa do regime político e das duras medidas restritivas. Do outro lado, o Executivo de Miguel Díaz-Canel responsabiliza totalmente o embargo económico e comercial imposto pelos EUA há seis décadas pela situação vivida no país e tem incentivado a população a manifestar-se contra o poder americano. Mas, afinal, o que fizeram os EUA e qual é o impacto das suas ações na crise cubana?
O embargo dos EUA
Desde 1960 que os Estados Unidos impõem uma extensa lista de limitações e proibições no que diz respeito à economia e ao comércio. É o que se designa de embargo.
A primeira sanção aconteceu há 61 anos e, ao longo do tempo, as proibições foram aumentando ou diminuindo consoante quem ocupava a Casa Branca. Após um aliviar das medidas durante a Administração de Barack Obama, as restrições voltaram a acentuar-se em 2019 pela mão de Donald Trump. Na prática, estas sanções resumem-se a corte de laços diplomáticos (relação de cooperação entre dois países), restrições nas viagens e limites à importação e exportação de produtos entre os dois países.
O embargo tem como objetivo exigir ao Governo de Cuba o respeito pelos direitos e liberdades do povo, através do estabelecimento de eleições democráticas. No entanto, a Organização das Nações Unidas tem vindo, ao longo dos anos, a condenar esta ação americana, considerando que não é uma forma eficaz de lutar pela liberdade do povo cubano, dificultando ainda mais a situação económica e social do país. A pandemia veio agravar a já debilitada economia do país, ao abalar um dos setores mais importantes: o turismo.
A população queixa-se também de medidas repressivas por parte do Governo. Por exemplo, o uso de Internet só foi generalizado em 2018 e, quando é utilizada para expressar ou organizar protestos contra o presidente, é alvo de controlo policial. A seguir às manifestações de 11 de julho, houve um apagão no serviço de Internet para impedir a convocação de mais protestos.
Texto: Sara Sofia Gonçalves