O que se passa na Antártida?

O enorme bloco de gelo antártico, que ajuda a regular a temperatura do Planeta, está a derreter três vezes mais rápido do que nos últimos 30 anos. E isso tem impacto em todo o Mundo. A temperatura global a aumentar, os níveis dos mares a subir, mais tempestades. Estamos a caminhar para um beco sem saída.

(Foto:  Martin Bernetti/Presidência do Chile / AFP)

O degelo está a acelerar

Comecemos pelo princípio. A Antártida está localizada no polo geográfico sul, é um continente cercado de água, que tem um clima e sistema próprios. Até 2016, o gelo da região estava, na verdade, a aumentar durante os meses de inverno. Porém, uma onda de calor extremo atingiu o continente e em março de 2022 deixou as temperaturas na casa dos -10 °C quando deveriam rondar os -50 °C. Neste momento, o gelo marítimo que cerca a Antártida está a derreter três vezes mais rápido do que nos últimos 30 anos.

 

Isto é preocupante?

Muito. O fenómeno está a causar um grande alarme entre os cientistas. Talvez não saibas que o enorme bloco de gelo antártico ajuda a regular a temperatura do Planeta. Isto porque a superfície branca reflete a luz do sol de volta para a atmosfera e arrefece a água por baixo e em redor do gelo. Basicamente, o gelo atua como uma camada protetora que previne o aquecimento excessivo do oceano. Com a redução deste bloco de gelo, a Antártida pode passar de congelador da Terra para aquecedor do Planeta. Por exemplo, em setembro, o gelo que flutua na superfície do Oceano Antártico já media menos um milhão e meio de quilómetros quadrados (em relação à média dos últimos anos).

 

O que pode acontecer?

À medida que o gelo marítimo desaparece, cada vez mais áreas do oceano vão ficar expostas ao sol, absorvendo o calor em vez de o refletir. E é um círculo vicioso. Se mais gelo derrete, a água fica mais quente e se a água fica mais quente, mais gelo derrete. Tudo isto culmina num Planeta também mais quente. Além disso, o derretimento dos icebergues faz aumentar os níveis dos mares, o que pode levar a grandes tempestades com impacto em milhões de pessoas à volta do Mundo. Só para teres uma ideia, desde os anos 1990 a perda de gelo terrestre na Antártida já contribuiu para um aumento de 7,1 mm nos níveis dos mares. Como diz António Guterres, o português que lidera as Nações Unidas e que visitou a região, “o que acontece na Antártida não fica pela Antártida”.


(Foto: Presidência do Chile / AFP)

 

O maior icebergue do Mundo “acordou”

A preocupação aumentou recentemente quando depois de 37 anos encalhado, o icebergue A23a [na imagem, de forma quadrada, à direita] , o maior do Mundo, “acordou”. Vamos por partes. Este icebergue tem cerca de quatro mil quilómetros quadrados de área, três vezes o tamanho de Nova Iorque, e mais de 400 metros de altura, é mais alto do que o maior arranha-céus da Europa, o London Shard. Desde 1986 que o A23a estava encalhado no mar de Weddell, na Antártida, formando uma espécie de “ilha de gelo”. Porém, o icebergue “despertou” e agora está a mover-se a grande velocidade pelo oceano, precisamente na altura em que o degelo na Antártida atinge proporções nunca antes vistas.

(Foto: Copernicus Sentinel-3 / AFP)

 

O Mundo tem de tomar medidas

O calor é um dos principais fatores a contribuir para este fenómeno devastador, já que dificulta que a água congele. Sim, o aquecimento global está a mudar a temperatura na Antártida e a acelerar o degelo. A poluição causada pelos combustíveis fósseis está mesmo a consumir o Planeta. De acordo com a ONU, em 2023, as emissões de gases com efeito de estufa estão a atingir máximos históricos, quando deveriam estar a diminuir (aumentaram 1,2% em relação ao ano passado). Há uma certeza: os países têm de fazer mais do que fazem agora. Se nada mudar, o aquecimento do Planeta pode aumentar três graus até ao final do século.

 

Texto: Catarina Silva