Os espiões não existem só nos filmes (eles andam por aí)

Os espiões não existem só nos filmes (eles andam por aí)

Não se dá por eles e é esse exatamente o objetivo (e a missão). São discretos e circulam sempre com as antenas no ar. O que fazem os agentes secretos fora do cinema, no mundo real? E que meios têm à disposição?

 

As falhas, as suspeitas, os mistérios

A notícia é recente. Um assessor de um eurodeputado alemão foi detido por suspeita de espionagem ao serviço da China. O suspeito é chinês e não foi publicamente identificado, cumprindo-se as regras de privacidade alemãs. Sabe-se, porém, que estava nessa função desde 2019 e que terá transmitido informações sobre negociações e decisões do Parlamento Europeu aos serviços de informação chineses e que terá, inclusive, espiado dissidentes da China na Alemanha. O caso está a ser investigado e o detido interrogado. O Parlamento Europeu fala já num ataque à democracia a partir do seu interior, de dentro.

Entretanto, o conflito no Médio Oriente veio chamar a atenção para as fragilidades dos serviços secretos de Israel, o país que garante ter um dos sistemas de segurança mais eficazes do Mundo. A 7 de outubro do ano passado, o Hamas entrou em Israel num ataque em larga escala. Mortes e sequestros. O que falhou? Falta de informação dos serviços de espionagem de Israel, referidos como um dos melhores do Planeta? Erros de cálculo? Erros de interpretação? A espionagem, afinal, também falha e tem os seus mistérios.

 

Espionagem, o que é?

É uma atividade ultrassecreta, como se vê nos filmes. É quando uma estrutura obtém informações secretas ou confidenciais sobre um país, um Estado ou uma organização, sem autorização de quem detém esses dados. É uma atividade legal, prevista na lei.

 

As secretas portuguesas

Já ouviste falar no SIS? SIS, iniciais de Serviço de Informações de Segurança, foi criado em 1986 com uma missão muito precisa: recolher e analisar informações com o propósito de garantir a segurança nacional e prevenir atos de sabotagem, terrorismo e espionagem que coloquem em causa o Estado de direito, a segurança do país. Ou seja, nas suas próprias palavras: “Ao SIS compete a produção de informações de segurança para apoio à tomada de decisão do Executivo, numa perspetiva preventiva, procurando antecipar fenómenos, conhecendo a priori as ameaças que se colocam à segurança coletiva e antecipando a tutela do Estado relativamente à investigação criminal.”

O SIS não pode deter pessoas ou conduzir investigações criminais e também não lhe é permitido vigiar de forma indiscriminada, precisa de autorização judicial para o fazer.

 

O que está debaixo de olho

Ameaças à segurança interna e externa, como o terrorismo, espionagem, sabotagem, tráfico de drogas e de armas, grupos considerados altamente perigosos. E não só. Os serviços secretos também estão atentos à atividade empresarial por cá e em qualquer parte do Mundo que possa afetar a economia do país. Ciberataques e a utilização da inteligência artificial andam também debaixo de olhos dos espiões.

 

Ouvem e veem, analisam e infiltram-se

Espião que é espião tem de ser discreto, andar na rua sem que se dê por ele, não sobressair em qualquer circunstância. É alguém atento e perspicaz, com as antenas sempre no ar. Sabe ouvir, usa o seu poder de persuasão, é empático e tem aquela habilidade para argumentar e convencer os outros. Recolhe informação, analisa, filtra o que interessa, e infiltra-se para investigar se assim for necessário.

Tem deveres, obrigações e limitações, claro. O dever de sigilo, em primeiro lugar. Um agente secreto tem regras próprias, o seu local de residência não é do domínio público, a disponibilidade tem de ser total e permanente, sem hora para entrar, sem hora para sair. Não pode recolher ou tratar informações que ofendam ou ameacem os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

É um trabalho peculiar e a seleção é rigorosa, feita por concurso com várias fases eliminatórias, provas e avaliações físicas e psicológicas, testes psicotécnicos e médicos. E o cadastro criminal tem de estar limpo.

 

Redes sociais, notícias, escutas

Mas, afinal, quais os meios que um espião tem ao seu dispor para fazer o que tem de ser feito? As redes sociais, como fontes abertas de informação, são um dos métodos de recolha de dados e de análise por tudo o que lá se passa. Os meios de comunicação, o que é dito em jornais, televisões, rádios, tudo é fonte de informação que não lhe escapa. Escutas, gravações de vídeo e de áudio, interceção de comunicação na Internet e análise de imagens de satélite são outras formas ao dispor do agente secreto em contextos específicos. Há também trabalho que pode ser feito em colaboração com as maiores agências de informações do Mundo nessa partilha de dados delicados e sensíveis.

Texto: Sara Dias Oliveira