A crise que assalta o país tem quatro anos. Falta comida, faltam medicamentos, aumenta a miséria, aumentam os confrontos na rua. As pessoas saem do país e o Mundo observa incrédulo. O que aconteceu à Venezuela?
Consegues imaginar como seria chegar ao supermercado e não veres lá qualquer alimento? Consegues imaginar um pacote de açúcar custar o que os teus pais ganham em duas semanas? Ou não poderes comprar medicamentos? Abrires a torneira e não sair água durante dias? Veres cada vez mais pessoas a procurar comida nos caixotes do lixo? Começares a ter fungos ou sarna? É isto que está a acontecer, pasme-se, na Venezuela, um dos países mais ricos do Mundo.
A Venezuela atravessa uma crise económica tão grande que, esta segunda-feira, dia 15, motivará uma reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia. É que o Mundo olha com grande preocupação para aquele país da América do Sul, de onde já saíram milhões de pessoas para escapar à fome e aos conflitos que se vivem diariamente nas ruas. No passado mês de junho, por exemplo, a Comissão Europeia aprovou um pacote de ajuda humanitária de 35,1 milhões de euros para os venezuelanos e para os países vizinhos que os estão a acolher.
Mas como é que se chegou a esta situação? Como começou a crise na Venezuela? Teremos de recuar até ao ano de 2013, quando morreu o anterior presidente da República, Hugo Chávez, e subiu ao poder Nicolás Maduro. Logo ali os protestos iniciaram-se, acusando Maduro de ignorar os níveis de criminalidade e de não servir o país economicamente. Mas o pior estaria por vir, e chegou em 2014, quando os preços do petróleo começaram a baixar muito. Importa dizer que a Venezuela é um país muito rico em petróleo, tendo uma das maiores reservas a nível mundial. À medida que o preço foi descendo, o país deixou de ter receitas para importar o que precisa. Começou a faltar tudo e a revolta contra Maduro subiu de tom, transformando a Venezuela quase numa zona de guerra.
E o futuro?
O futuro da Venezuela não se adivinha promissor. Pelo menos assim demonstram as conclusões de várias entidades internacionais. Um relatório recente dá conta que a inflação, isto é, o aumento de preços, pode ser este ano na ordem dos 1 350 000%. Como é que se pode comprar alguma coisa? O mesmo relatório revela ainda que esse aumento de preços pode chegar a
10 000 000% em 2019. Com uma inflação destas, quanto passa a custar um produto de um euro? O impacto é tão grande que, infelizmente, poderemos continuar a assistir a uma saída massiva das pessoas. O problema da Venezuela é cada vez mais um problema do Mundo inteiro.
O êxodo massivo
Sem acesso aos bens essenciais, os conflitos adensaram e em 2015 a oposição conquistou a maioria no Parlamento. Nicolás Maduro, porém, foi inviabilizando a Assembleia com decretos que lhe permitiram permanecer no comando do país. O próprio Supremo Tribunal chegou a retirar poder ao Parlamento. Nessa altura, já o resto do Mundo começava a olhar para a Venezuela com espanto. De um lado, estão os que entendem que Maduro tem de sair; do outro, os que acreditam que o agudizar da situação não é obra sua, mas de bloqueios internacionais. Certo é que as pessoas passam fome e pelo menos dois milhões já saíram do país, incluindo milhares de portugueses.
O Governo português
O Governo português já veio dizer, entretanto, que receberá todos os portugueses que tenham emigrado para a Venezuela e que queiram agora regressar. Recentemente, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou até que está tudo preparado para esse acolhimento ser feito “nos centros de emprego, no sistema de saúde, nas escolas e no sistema de segurança e proteção social”. Milhares já regressaram, muitos à ilha da Madeira, de onde são oriundos. Foi aliás ali criado um gabinete de apoio aos emigrantes e lusodescendentes que chegam da Venezuela. A preocupação maior continua a ser, contudo, os portugueses e lusodescendentes que continuam na Venezuela.
Texto: Leonor Paiva Watson