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Povoar uma cidade com abrigos para livros com asas

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A Escola Básica n.º 1 de Santa Maria da Feira saiu à rua com caixotes que espalhou por vários locais da cidade e que, durante este mês, serão os recipientes de livros que serão colocados em abrigos à mão de quem passa no final do ano letivo. “Somos o Que Lemos” é o nome do projeto desta escola e que mobiliza os quase 300 alunos e professores, do 1.º ao 4.º ano de escolaridade, além da comunidade em redor e também da periferia. Todos os que queiram contribuir.

O convite está feito. “Um livro que esteja há muito na tua estante, que já leste e voltaste a ler…… um outro livro que já esteja num caixote guardado no teu sótão, com uma perspetiva forte de ir para a reciclagem… ou então ‘morrer’ ali esquecido! Traz esses livros e faz parte da construção deste querer”, anuncia o panfleto da mais recente missão da escola que tem o sonho de “fazer acontecer a montanha de livros mais alta do mundo” para depois distribuí-la por todos.

Até ao final de maio, há caixotes à espera de livros em 26 pontos da cidade, desde cafés, lojas, restaurantes, talhos, o centro de saúde e a Câmara Municipal.

A associação de pais da escola vai construir os abrigos como gaiolas, com as portas abertas para livros que querem voar, acessíveis a todos, a qualquer hora, “sem restrições, sem inibições, sem datas para entrega, sem limites”. Os alunos do 4.º ano vão criar o roteiro dos abrigos dos livros. Os abrigos serão como casas da liberdade. “Aos pássaros foram-lhes dadas as asas e a nós foram-nos dados os livros para voarmos”, adianta a escola. “Esta é uma das imagens que nos povoam a mente… a possibilidade de despertar, de incentivar, de estar ali à mão de quem passa.”

A manifestação saiu à rua na última terça-feira para chamar a atenção de toda a cidade para a recolha dos livros. Os alunos declamaram poemas, levaram bandeiras e cartazes com frases importantes – “Ler é uma viagem de comboio a parar em todos os apeadeiros”, “Ler é ter morada na lua!”, “Ler é um banco de jardim!”, “Ler é uma corrida a favor do tempo” – e cantaram “Somos livres (uma gaivota voava voava)”, uma canção de Ermelinda Duarte que fala da liberdade de pensar, da liberdade de ser.

O projeto está a arrancar e a ideia é que permaneça no tempo. Haja livros, vontade de dar e partilhar, desejo de ler e de sonhar.

 

Texto: Sara Dias Oliveira