Será que os carros deviam ser todos elétricos?

Será que os carros deviam ser todos elétricos?

A partir de 2035 a venda de carros novos a gasolina ou a gasóleo vai ser proibida na União Europeia. O objetivo é, claro está, reduzir as emissões de dióxido de carbono e lutar contra as alterações climáticas. Os Estados Unidos já fizeram dos veículos elétricos uma prioridade. Fomos saber se este é o caminho certo.

 

Prós: melhorar o ambiente e a saúde

É sabido que é urgente reduzir as emissões de CO2 para combater as alterações climáticas e uma das maiores vantagens do carro elétrico é ser abastecido com eletricidade, ou seja, não emite CO2. Mais: a própria eletricidade vai ser cada vez mais renovável. O que é que isto significa? No caso de Portugal, como lembra Pedro Nunes, da associação ambientalista Zero, “há uma meta definida que aponta que 80% da nossa eletricidade produzida será renovável até 2026”.

Depois, a segunda grande vantagem dos veículos elétricos tem a ver com a qualidade do ar. As nossas cidades são altamente poluídas e isso traz consequências para a saúde. Talvez não saibas que todos os anos morrem milhares de europeus devido à poluição do ar (por exemplo, ela é responsável por 10% dos cancros na Europa) e “a única maneira de resolvermos este problema é banindo os carros movidos a combustíveis fósseis”. E sim, há mais vantagens, é o caso dos custos de manutenção (além do combustível) que são mais baixos quando comparados com um carro a gasóleo ou a gasolina.

 

Contras: a autonomia e o carregamento

A tecnologia tem vindo a ser melhorada, mas a autonomia (o número de quilómetros que dá para percorrer com cada carregamento) dos veículos elétricos ainda é um senão na hora de comprar.

Outra desvantagem é que os postos de carregamento ainda não são muitos, o que pode dificultar encontrar um sítio para “abastecer” o carro, sobretudo no Interior do país – já para não falar do tempo que leva a carregar quando os carregadores disponíveis não são os mais rápidos. Ainda assim, certamente já reparaste que a rede de postos de carregamento de veículos elétricos está a crescer.

O preço de venda destes carros também é um ponto negativo. Sim, são mais caros. “O preço tem a ver com as baterias, que são caras de produzir”, explica Pedro Nunes, da Zero, acrescentando que, mesmo assim, no fim de contas, “contando com a manutenção e o combustível, fica mais barato”. De qualquer forma, tudo indica que, no final desta década, um carro elétrico a sair do stand já custará o mesmo que um a gasóleo ou a gasolina.

 

A grande questão das baterias

Esta tem sido apontada nos últimos tempos como uma das desvantagens dos carros elétricos, que usam sobretudo baterias de lítio, como é o caso da Tesla. Qual é o problema? Quando essas baterias chegam ao fim de vida (e o tempo de vida útil delas não é muito grande, o que obriga a trocá-la), a reciclagem é difícil e dispendiosa.

Resumindo, um automóvel elétrico é mais “verde” do que um “normal”, mas também acarreta problemas ambientais. Neste ponto, convém saber que a União Europeia está a trabalhar no assunto, não só “para garantir uma alta taxa de reciclagem de baterias”, mas também para “incorporar materiais reciclados nas novas baterias que venham a ser produzidas”, o que poderá ajudar a minimizar o problema.

 

Os incentivos do Governo

Sabias que o Governo português dá incentivos à compra de veículos elétricos, que incluem carros e bicicletas? Em 2023, a verba disponível para esse efeito ronda os 10 milhões de euros no total. Na prática, cada condutor pode receber uma ajuda de 4 mil euros na compra de um carro novo 100% elétrico. Além disso, também há benefícios nos impostos: os donos destes carros não têm de pagar o Imposto sobre Veículos nem o Imposto Único de Circulação.

 

A lei europeia

Foi aprovada em fevereiro a lei que proíbe a venda de carros novos a gasolina ou a gasóleo a partir de 2035 na União Europeia, onde Portugal se inclui. Atenção, isto não significa que vão deixar de existir, vão é deixar de ser postos à venda a partir desse ano.

Mas isto ainda não resolve o problema por completo, já que, apesar de a lei proibir a venda de novos veículos com motores de combustão, há uma exceção: os que usam combustíveis sintéticos, uma combinação de hidrogénio com dióxido de carbono, em vez de gasolina e gasóleo (refinados do petróleo), podem continuar a ser vendidos. Comparados com os carros a diesel e gasolina são um mal menor, mas continuam a trazer malefícios para a poluição nas cidades.

 

Afinal, é sim ou não?

O ideal seria, no futuro, haver menos carros a circular e usarmos cada vez mais os transportes públicos ou a bicicleta. Mas “os automóveis que circularem devem desejavelmente ser movidos a eletricidade”, segundo Pedro Nunes, da associação ambientalista Zero. De todas as tecnologias que existem hoje, esta é a mais viável ambientalmente.

Texto: Catarina Silva
Ilustração: Freepik