Taxas de juro, famílias aflitas, país apertado

Taxas de juro, famílias aflitas, país apertado

É um dos assuntos do momento, financeiramente falando. E não é para menos. Quem tem empréstimos bancários não pára de fazer contas à vida porque o impacto nas carteiras tem sido tremendo.

A história é comum a tanta e tanta gente. Uma família pede um empréstimo e o banco cobra um valor pelo dinheiro cedido para a compra de uma casa ou de um carro, seja o que for. É aqui que entram as taxas de juro, ou seja, aquela quantia cobrada pelo montante emprestado. Por outras palavras, o juro é o custo a pagar, além de todo o dinheiro emprestado, por o banco ter adiantado uma determinada verba. O problema é que estas taxas não param de aumentar com consequências diretas para o orçamento familiar e para o país quando se fala em dívida pública.

 

A lógica da procura e da oferta

Quanto menos crédito disponível, mais as taxas de juro sobem. Parece simples, à primeira vista. Se muitas pessoas querem comprar pão ou leite, por exemplo, e não há pão e leite suficientes para a procura, os preços sobem. As taxas são reguladas desta forma, pela procura e oferta de crédito, isto é, por quanto as famílias e empresas querem gastar e investir e o crédito disponível. Depois fazem-se os devidos cálculos que determinam quanto as famílias têm de pagar por mês. É o mercado livre a funcionar.

 

Contas e mais contas

Há necessidade de um empréstimo, vai-se ao banco, calcula-se a taxa a pagar. Por exemplo, um empréstimo de 10 mil euros a uma taxa anual de 3%, significa que é preciso pagar o total do dinheiro pedido, os 10 mil euros, mais 300 euros, a tal taxa de juro. A questão é que as taxas aumentam a olhos vistos e, cálculos feitos, num empréstimo já existente de 125 mil euros a 30 anos, as famílias têm de pagar mais 50 euros na prestação mensal ou mais 100 euros se o crédito for de 275 mil euros. Está visto, contrair um empréstimo sai caro às famílias. E quanto mais velho se é, menos tempo se tem para se pagar o empréstimo. Por isso, mais altas serão as taxas de juro aplicadas.

 

A dívida do país

O Estado é, neste caso, como uma família que também precisa de empréstimos para pagar as suas dívidas. Pois, lá está, a subida das taxas de juro também mexe nos bolsos do país. O aumento programado de milhões de euros de encargos com os juros da dívida é diretamente causado pela subida das taxas de juro. E não é coisa pouca. Está calculado um aumento de mais de 500 milhões de euros. O Estado também não escapa, tem as suas obrigações, e o custo para se financiar não pára de subir.

 

Sempre a subir, sempre a subir

As taxas de juro sobem, as carteiras das famílias ficam mais leves. Em julho deste ano, e pela primeira vez em 11 anos, o Banco Central Europeu, quem decide estas coisas, resolveu aumentar as taxas de juro. Dois meses depois, em setembro, mais uma subida histórica, e parece que não vai ficar por aqui. Em outubro, nova subida. Nunca tal se tinha visto. Porquê? Porque se quer controlar a inflação (explicação a seguir).

 

Inflação alta, arrefece-se a economia

Parece estranho, mas é assim que funciona. Quando a inflação está demasiado alta, com os preços a subir rapidamente, como é o caso neste momento, até se batem recordes nesta matéria, os bancos aumentam as taxas de juro para que os empréstimos fiquem mais caros. Dizem os entendidos que o objetivo é esfriar a economia, ou seja, diminuir a procura de bens e serviços para reduzir a inflação. O contrário também acontece, embora cada vez menos, ou seja, as taxas de juro diminuem quando a inflação desce muito, com o propósito de tornar o crédito mais barato e incentivar o investimento, os negócios, a procura.

3%
É a percentagem referida
nas previsões de aumento
das taxas de juro para o próximo ano.

 

O que fazer?

Um empréstimo bancário é um peso no orçamento familiar que aflige, que preocupa. E não há muito por onde mexer. Ou se aumentam as receitas, mais um trabalho extra, por exemplo, ou se cortam despesas para conseguir pagar o empréstimo. E o incumprimento sai caro. Por isso, é essencial planear, antecipar subidas, gerir o orçamento familiar com conta e medida. Além disso, é possível renegociar créditos com o banco, rever contratos de créditos, e até mudar de instituição bancária.

 

Texto: Sara Dias Oliveira
Foto: iuriimotov/Adobe Stock