As ideologias extremistas ganham terreno no contexto político internacional com o aumento de eleitos e, por conseguinte, com a conquista de novos lugares nos órgãos de decisão. Os olhos estão agora postos em Itália com a eleição de Meloni.
A Europa habituou-se a olhar para a política essencialmente em duas direções. Os partidos à esquerda e os partidos à direita – e há ainda os que se posicionam mais ao centro. Como uma escala em que tanto à esquerda como à direita há partidos e as suas ideologias que se aproximam das extremidades. É precisamente aí que aparece a direita mais à direita, ou seja, a extrema-direita que tem vindo a aumentar a sua representatividade na Europa. O que defende? Quais os seus princípios?
Populismo e nacionalismo
A extrema-direita, ora mais às claras, ora mais subtilmente, de uma maneira ou de outra, questiona a democracia como pilar de uma sociedade livre. Há dois valores importantes para os partidos que se movem neste espectro político. O nacionalismo, isto é, para se pertencer a uma nação é preciso aceitar os seus valores culturais e tudo o que vem de fora é mal visto e mal recebido. E o populismo, ou seja, o discurso que se alimenta do descontentamento e da insatisfação do eleitorado, que potencia sentimentos negativos e apresenta soluções autoritárias. Há outras ideias no cardápio da extrema-direita que defende a pena de morte, luta por políticas anti-imigração. As desigualdades sociais são olhadas com naturalidade. Contesta o projeto e o modelo da União Europeia e os discursos de ódio centrados em faixas específicas da população são, muitas vezes, debitados em público.
Itália, o último exemplo
Itália guinou, recentemente, à direita mais à direita. Desde Mussolini, o ditador, que a extrema-direita não mandava no país. Nas últimas eleições, no mês passado, a coligação de direita e extrema-direita obteve 44,1% dos votos com o partido Fratelli d’Itália (Irmãos de Itália) à cabeça. Giorgia Meloni, de 45 anos, é o rosto deste bloco e será a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra de Itália. Algumas ideias da líder neofascista são conhecidas.
As regras europeias sobre o pacto de estabilidade e crescimento não a convencem, olha de lado para a União Europeia, é nacionalista, quer fechar as fronteiras do seu país, é contra o aborto, promete luta à comunidade LGBT. O seu slogan é “Deus, pátria e família”. Em 2008, foi ministra da Juventude do governo de Berlusconi, que agora reaparece na cena política italiana.
Portugal não é exceção
Há poucos países da União Europeu sem representantes da extrema-direita nos seus parlamentos. Contam-se pelos dedos de uma mão. Luxemburgo e Malta estão nessa lista. Os partidos mais à direita crescem de importância e aumentam a sua força. Portugal não escapa. O Chega, nas últimas eleições legislativas, tornou-se a terceira força política, de um deputado eleito em 2019 passou para 12 em 2022. No seu discurso está a pena de morte, a castração química de pedófilos, a retirada de ovários a mulheres que abortem e a revisão da Constituição.
A leste, nada de novo
Este ano, Viktor Orbán, o ultranacionalista, foi reeleito pela quarta vez primeiro-ministro da Hungria. Dos 199 lugares possíveis, conquistou 135. Maioria absoluta. Aliado de Putin, presidente da Rússia, amigo de Bolsonaro (Brasil), manteve boas relações com Trump (EUA), crítico feroz da União Europeia, defensor acérrimo de medidas anti-imigração. Já apontou o dedo a uma Europa multiétnica e afirmou que a Hungria era racialmente pura, lembrando o discurso de Hitler sobre a supremacia da raça ariana.
França e a conquista de lugares
Marine Le Pen é o rosto do partido de extrema-direita União Nacional em França e já concorreu várias vezes à presidência do país, nunca ganhou. Seja como for, a extrema-direita tem crescido pela sua mão. Em 10 anos e três eleições, de 2002 para 2012, passou de dois para 89 deputados no parlamento. Um aumento histórico, nunca antes visto, no panorama político francês. Le Pen defende o fim do euro em França e o regresso do franco, antiga moeda do país, bem como a pena de morte e a fixação de um limite de entrada de imigrantes no país da liberdade, igualdade e fraternidade.
Sara Dias Oliveira