Stromae é na verdade Paul Van Haver, um cantor que nasceu em 1985 em Bruxelas e se tornou conhecido por ser um compositor inovador, que mistura estilos como hip hop, música eletrónica, cubana, “chanson” e muitos outros. São sonoridades que por vezes parecem estranhas, mas que ficam no ouvido e… se entranham.
Publicou dois álbuns, Cheese (2018) e Racine Carrée (2013), onde aparece o hit “Papaoutai”, para além de muitos singles (“Alors on danse”, por exemplo) e parcerias com outros músicos. As suas letras são sempre fortes, denunciando injustiças com pitadas de grande ironia. Destaque ainda para a sua capacidade de representação teatral, patente em videoclipes imaginativos como “Formidable” ou “Tous les Mêmes”, onde é homem e mulher ao mesmo tempo, ou o fabuloso “Carmen”, uma animação crítica ao Twitter. Acrescente-se a sua natural empatia com a câmara e temos um retrato fiel de Stromae – nome artístico que é um anagrama de “maestro” e se lê “stromaê”.
Depois de três anos sem nada produzir (dizem que teve um esgotamento), eis que regressa em força e traz com ele o single “Santé” (“Saúde”, em português) acompanhado, claro está, por um videoclipe “à son style”.
O ritmo energético tem uma cadência de som cubano misturado com hip hop e a letra é um brinde aos que não têm condições de vida para poder brindar, porque têm profissões duras e horários extenuantes, fazendo aquilo que os outros não gostam de fazer e que muitas vezes são humilhados por eles.
Fala de Rosa, que limpa cozinhas; de Albert, que limpa bares; de Arlette, que limpa casas-de-banho e muitos outros mais. Pessoas humildes e anónimas que dançam ao ritmo de “Santé”. Em resumo, um trabalho de homenagem aos mais humildes e de apelo ao respeito por todos – “j’aimerais lever mon verre à ceux qui n’en ont pas” (queria erguer o meu copo àqueles que não o têm).
Texto: Maria José Pimentel