“Vaca”, tradução do original “Cow”, é um filme-documentário que estreou recentemente em Portugal. A realizadora, Andrea Arnold, decidiu filmar o quotidiano de uma vaca. Foi para uma quinta no Reino Unido e escolheu a sua protagonista entre muitas vacas leiteiras que lá encontrou. Luma, que estava grávida, foi a escolhida para personagem principal deste documentário. Foram precisos quatro anos para a filmar enquanto dormia, ruminava, era ordenhada, vacinada, descornada, marcada … e convivia com as irmãs e os humanos. E o principal: a sua relação com o filhote, um bezerrinho muito fofo.
Sempre com a sua câmara pronta, a Andrea registou tudo, com a sua mestria de realizadora distinguida com prémios importantes, mesmo quando era pisada pelas duas personagens, mimos de quem é já uma “star”. Na vacaria, só se ouvem os “diálogos” das vacas na sua linguagem muito característica e há música, alguma escolhida por Andrea e outra que os tratadores dos bovinos põem no ar para animar o seu trabalho.
Desta forma, acompanhamos o dia a dia das vacas, como crescem e interagem umas com as outras e são tratadas para responder às necessidades dos humanos com as riquezas do seu leite. Está lá todo o ciclo de uma vida, tal como na vida das pessoas: a infância brincalhona, a adolescência rebelde, a fase adulta com a maternidade, o cansaço da velhice. Há birras, olhos com lágrimas, lambidelas, mugidos, berros, protestos… Como não ficar emocionado(a) e gostar da Luma e do seu bezerro? Dá vontade de estar lá a fazer-lhes festinhas e a provar o leite acabado de ordenhar.
Mas também está lá o lado trágico da vida. Claro que nós sabemos que as vacas têm outros recursos que também são aproveitados pelos humanos: a sua pele para o couro dos sapatos, carteiras, etc. e, sobretudo, a sua carne, a qual entra na dieta de muitos lares, pelo que esse aspeto é incontornável no filme. Assim, testemunhamos todo o processo da indústria pecuária a invadir o mundo de Luma para retirar dela benefícios para o nosso mundo. O final do filme impressiona, mas nada é camuflado. Pode ser cruel, mas a Andrea nada esconde, porque é a vida real que lhe interessa mostrar, nem que seja para denunciar a compulsividade do consumo dos seres humanos. Por esse facto, as questões ambientais saltam do documentário e far-te-ão refletir sobre o seu impacto na sustentabilidade do nosso planeta, talvez até para sentires um impulso de mudar o que está errado.
Assiste ao trailer do filme aqui:
Texto: Maria José Pimentel