Quando um bebé nasce, se ainda não se sabe antes pela ecografia, há logo uma pergunta: é menino ou menina?
E surgem de imediato ideias pré-concebidas: se for menina vestirá rosa, se for menino, azul; às raparigas oferece-se bonecas, aos rapazes carros. Isso é uma distinção sexual ou de género?
A nossa sociedade prepara-nos para desempenhar papéis de acordo com o nosso sexo. Devemos ter comportamentos, vestuário, profissões, por exemplo, mais “masculinos” ou mais “femininos” conforme somos identificados como rapazes ou raparigas e há até preconceitos que nos moldam desde a infância: “um homem não chora”, “fica mal uma menina dizer asneiras”, “senta-te direito, como uma menina e não como um rapaz”, “as tarefas domésticas são para as meninas, os rapazes gostam mais de mecânica”… São os chamados estereótipos (ideias feitas) que nos marcam e que depois, quando adultos, passamos aos nossos filhos como educação.
Mas nem todos/as se sentem bem com essa pele de homem ou mulher de acordo com o seu sexo registado à nascença. A questão é que a identidade de género é uma coisa diferente de orientação sexual e que não deve ser confundida.
Começa por ver este excelente vídeo para perceberes o que está em causa.
Género é, então, uma coisa construída pela sociedade, que espera/deseja que nós nos comportemos como “masculinos” ou femininos” e só assim seremos bem aceites no trabalho, nas nossas relações, por exemplo. Em muitos países, estes padrões conduzem à desigualdade de acesso a empregos, salários, responsabilidades, favorecendo os “homens” e desvalorizando o papel das “mulheres” em sociedade. E há ainda os “outros” sem acesso a qualquer direito, a não ser que escondam a sua verdadeira natureza.
A identidade de género é a forma como a pessoa se identifica, como se sente, independentemente do corpo com que nasceu. Pode considerar-se, na essência, como homem, mulher, um pouco de ambos ou mesmo nenhum dos dois. Assim, entre o masculino e o feminino, há as pessoas a género, as pessoas não binárias, as pessoas género fluído, entre outras – podemos considerar como um “terceiro sexo”.
A maioria das pessoas transgénero são muitas vezes incompreendidas e vítimas de “bullying” e mesmo de exclusão pelas suas famílias, na escola, no mercado de trabalho, correndo o risco de desenvolver depressões e outras doenças por falta de autoestima.
O cantor belga Stromae (que esteve no Festival NosAlive) “brinca com os nossos estereótipos e mostra bem que há zonas cinzentas entre o “masculino” e o “feminino” numa performance bem ao seu estilo no clip “Tous les mêmes” (2013).
Enfim, o nosso mundo avança, cada vez mais múltiplo, cheio de “vozes” e de diferentes possibilidades de vivê-lo, sobretudo quanto às identidades de género. Esta realidade prova que nunca foi suficiente dividir os seres humanos entre homens e mulheres, porque essas “vozes” sempre existiram, não se expressavam era mais abertamente como agora.
Cada um/a de nós é uma pessoa única no que respeita à sexualidade e à identidade. Devemos ser tolerantes e combater estas desigualdades que nos separam uns dos outros, pois, o que interessa é o respeito e o amor pela dignidade da pessoa, rumo a um futuro múltiplo e integrador das nossa diferenças.
Texto: Maria José Pimentel