Os preços aumentam, os salários não esticam, a economia anda aos solavancos. Há um indicador que revela como vai a vida de um país, uma percentagem que mexe com a vida de toda a gente. O panorama não é animador.
A inflação mostra como bate o coração económico de um país. Fazem-se cálculos, o habitual numa economia de mercado. A inflação é, na verdade, um aumento geral dos preços. A conta do supermercado dispara, os custos dos combustíveis aumentam, da energia idem aspas, o dinheiro perde valor. É tudo mais caro. É mais caro ir às compras. É mais caro atestar o carro. A vida está mais cara.
Em Portugal, as notícias não são boas. A taxa de inflação subiu para os 8,7% em junho, o valor mais elevado desde dezembro de 1992, e atingirá os 9,1% em julho. Tudo a subir, os alimentos, o gás, o gasóleo, a eletricidade. O futuro avizinha-se complexo. Há previsões de uma taxa que poderá chegar aos 10%.
Um euro já não é um euro
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) é a base do cálculo da taxa de inflação. As variações de preços entram, portanto, nesta equação. Neste momento, o que se verifica é que, com o mesmo dinheiro, se compra menos. Com um euro hoje, compra-se menos do que ontem. O que significa que a inflação reduz o valor da moeda. O que quer dizer que a inflação diminuiu o poder de compra das famílias. O que mostra que o custo de vida não pára de aumentar.
A guerra
É dos motivos que explicam a subida da inflação. A guerra na Ucrânia continua a ter consequências tremendas. A partir do momento em que há matérias-primas e produtos que não saem do país – os cereais, por exemplo – e que a Rússia fecha as torneiras do gás à Europa, os preços dispararam. É o que está a acontecer.
Ordenados, habitação, pensões
Está tudo interligado. Se os preços sobem e os salários ficam na mesma, a vida torna-se mais difícil. O Governo já disse que não iria subir os ordenados da Função Pública ao nível da inflação durante este ano. Certo é que a inflação tem uma palavra a dizer nos preços da habitação. Os custos com as matérias-primas e a energia na construção aumentaram, o setor abranda a atividade, a oferta diminui, o preço das casas sobe. A inflação cresce, sobem os custos do crédito à habitação.
E as pensões? Aqui há boas notícias. As reformas são atualizadas tendo em conta o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto, dos últimos dois anos, e a taxa de inflação, com algumas contas pelo meio. Ora se a inflação sobe, as pensões aumentam também. O Governo garantiu que não vai mexer na fórmula e que as reformas mais baixas, inferiores a 947 euros, podem subir 7% no próximo ano.
O paradoxo e as prioridades
Mau para os portugueses, bom para o Governo. Como assim? Se a inflação aumenta, se os preços sobem, o Governo encaixa mais dinheiro na sua conta, fruto das taxas e percentagens que recebe sobre tudo o que se mexe. Ou seja, mais receita fiscal, mais dinheiro de impostos a entrar nos cofres do Estado. E o défice público diminui. Perante isto há questões que se colocam. O que deve o Governo fazer? Ajudar os portugueses mais atingidos pela inflação ou aproveitar o encaixe financeiro para reduzir a sua dívida?
Texto: Sara Dias Oliveira