O turismo está a estragar as cidades?

O turismo está a estragar as cidades?

Com o crescimento rápido do turismo em Portugal nos últimos anos, ouve-se dizer que há turistas a mais – será possível? Em Lisboa, quem vai trabalhar já nem consegue apanhar transportes, cheios de turistas, e no Porto as notícias falam de famílias forçadas a sair das suas casas, transformadas em alojamento para o turismo. Será possível que deixe de haver portugueses nas cidades turísticas? E os turistas vão continuar a vir? Nós ajudamos a perceber o fenómeno do turismo.

 

Quantos turistas aguentamos?

O Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT) andou a “contar” turistas para saber se temos turismo a mais, pelo menos em comparação com as cidades mais procuradas da Europa – Barcelona, Londres, Praga, Dubrovnik. Lisboa tem nove vezes mais turistas do que moradores e o Porto oito vezes mais turistas. Praga e Barcelona têm cinco vezes mais e Londres apenas quatro. SegundoAntónio Jorge Costa, presidente do IPDT, os nossos centros históricos são pequenos. Por isso, concentram-se muitas pessoas em pouco espaço: “Quem faz a gestão do território deve investir no equilíbrio, não podemos deitar fora o turismo”.

 

Existe turismo a mais?

Os prejudicados acham que sim, mas quem percebe mesmo destas coisas garante que não. António Jorge Costa explica-nos que o turismo contribui para a riqueza do país a nível económico (cria emprego, paga impostos, etc), mas também a nível social e cultural. “Já não é só quem tem dinheiro para viajar que pode contactar com outros povos, outras maneiras de viver, de falar, de vestir. O turismo traz-nos o Mundo”, resume.

 

 

E se cobrarmos mais taxas?

As taxas turísticas não são criadas para afastar viajantes, mas podem ter esse efeito “se os turistas não sentirem que valeu a pena”, avisa Jorge Costa. O objetivo das taxas é melhorar as condições das cidades para moradores e turistas e isso deve ser “bem visível para quem a paga”. Tal ainda não acontece em Portugal: as cidades cobram as taxas, podem até divulgar o total, mas não há notícia do que foi feito com o dinheiro. “Amesterdão e Barcelona usam as taxas para criar novas atrações turísticas até 100 quilómetros de distância, para dissipar a concentração de turistas”, exemplifica. Quando for encontrado o equilíbrio, continuará a haver residentes e turistas nas cidades. Afinal, quando viajas também és turista. Será que os locais te apreciam?

 

 

 

Texto: Erika Nunes