Os vírus, essas criaturas tão estranhas

Os vírus, essas criaturas tão estranhas

Não se mexem, não se alimentam, nem sequer respiram. Mas, quando entram nas células, são mauzinhos. Ganham vida e atacam o corpo.

O vírus é um agente esperto e tão minúsculo que só se deixa ver ao microscópio. Não é feito de células. Não é um ser vivo. Não se mexe, não se alimenta, não respira, não se reproduz. Mas quando se enfia numa célula, como hóspede mal-educado que não pede licença para entrar, começa a comportar-se como um ser vivo. É como se hipnotizasse as células que se tornam fábricas de vírus, como escravas que passam a produzir o que não devem. O sistema imunitário congrega todas as forças para combater a infeção. E o organismo fica doente.

 

O que é um vírus?

“Um vírus é um agente muito simples e pequeno capaz de causar infeções. Chamam-lhe um pouco de tudo: bichinho, germe, micróbio ou, talvez mais corretamente, microrganismo, pois é um organismo com tamanho micrométrico”, explica Inês Gonçalves, microbióloga, engenheira biomédica, investigadora do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, do Porto. Os vírus são muito pequenos, não se veem a olho nu. “O coronavírus, por exemplo, tem cerca de 0,1 micrómetros, por isso é 10 mil vezes mais pequeno que 1 milímetro (o tamanho do tracinho mais pequeno das nossas réguas).”

 

Caixinhas esféricas

Os vírus são diferentes de outros microrganismos. São diferentes das bactérias e dos fungos, uma vez que não são considerados células. As células estão vivas, conseguem funcionar e multiplicar-se sozinhas. O mesmo não podemos dizer dos vírus.

“Os vírus são parasitas obrigatórios, ou seja, precisam de entrar num hospedeiro vivo para realizar as suas funções e sobreviver”, prossegue Inês Gonçalves. “Podem imaginá-los como uma espécie de caixinha esférica com as instruções para funcionar (o material genético) no seu interior, mas, como não têm as máquinas/ferramentas necessárias para executar essas instruções, precisam de entrar numa célula e usar as máquinas/ferramentas da célula.” Quando entram, fazem das células gato-sapato.

 

Enganar células

E como é que os coronavírus conseguem entrar nas células? Enganando-as. Os vírus enganam as células. “Têm uma cobertura à sua volta em forma de coroa (daí o nome coronavírus; corona significa coroa em latim), e que funciona como uma ‘chave’ que vai ser reconhecida pelas ‘fechaduras’ na parte de fora da célula. Depois de entrar, o vírus usa então a maquinaria das células para se multiplicar, até que ficam tantos vírus dentro da célula que esta acaba por rebentar e os vírus espalham-se pelas células vizinhas, onde irão novamente entrar e multiplicar-se.” É este o processo.

O corpo reage ao ataque. Temos o sistema imunitário e os glóbulos brancos que viajam pelo sangue funcionam como os polícias que vão tentar combater os vírus. É então que começamos a ter febre, tosse e outros sintomas de que estamos doentes. Na realidade, esses sinais indicam que estamos a tentar combater o vírus. Mas há o outro lado. O pior lado. É nessa altura que “os vírus se aproveitam da tosse e dos espirros para saírem do nosso corpo dentro de gotículas que vão contaminar outras pessoas”. Daí todas as precauções e recomendações para nos protegermos e que convém respeitar. A bem da saúde de todos.

 

Texto:  Sara Dias Oliveira