A banalização dos emoji

Nasceram no Japão no fim do século passado, mas só há uma década se tornaram um enorme sucesso. Será que usamos emojis em demasia?

 

BILHETE DE IDENTIDADE

O emoji foi criado no final dos anos 90, no Japão, e durante mais de duas décadas o seu uso manteve-se quase circunscrito ao país do sol nascente. O seu pai chama-se Shigetaka Kurita, que os concebeu quando trabalhava na maior empresa de telefones do seu país, chamada NTT DoComo. O nome resulta da junção de duas palavras japonesas – “e”, imagem e “moji”, que significa personagem – e a função é a de traduzir emoções de forma divertida.

 

BANALIZAÇÃO

A sua utilização diária banalizou-se nos últimos anos graças à disseminação levada a cabo pela empresa americana Apple, criadora e distribuidora do modelo de telefone iPhone. O salto aconteceu com a disponibilidade dos pequenos símbolos através do sistema operativo IOS 2, que data de 2008. A popularidade foi de tal ordem que tanto a Google como a Microsoft os integraram nos seus programas.

 

ESTAGIÁRIA

A primeira tabela de emojis (de origem japonesa, portanto) contava com 176 figuras, todas elas ligadas a elementos do quotidiano: do sol ao guarda-chuva, da tesoura ao coração partido. A criação dos desenhos mais populares, porém, acabou por ter a assinatura de Angela Guzman. Foi ela quem tratou dos primeiros 500 símbolos da Apple, na altura enquanto estagiária da empresa de Steve Jobs, fundador da marca. A primeira grelha de emojis demorou três meses a ser fechada.

 

IMPACTO NA LÍNGUA

Os efeitos da vulgarização dos emojis na comunicação humana e na escrita dita tradicional dividem linguistas e escritores. Para a poetisa Maria Sousa, o uso frequente de emojis envolve alguns riscos. “Podem desvirtuar a língua portuguesa”, defende. “Por vezes transformam-se em ruído e impedem mesmo uma boa comunicação.” No seu entender, como não são palavras, dão origem a diferentes interpretações. A linguista Alexandra Guedes Pinto desvaloriza a invasão dos emojis na comunicação mas, ainda assim, acha que eles não são adequados, por exemplo, a uma composição escolar. De qualquer forma, Alexandra está convencida que os emojis nunca serão mais que residuais e que não chegarão às carteiras das escolas. Considera ainda que têm uma vantagem: são uma linguagem universal que não precisa de um idioma.

 

CURIOSIDADES – FIGURA DO COCÓ

 

Angela Guzman recebeu instruções para se inspirar no design japonês e sobretudo para não abandonar o conceito original do design “skeumórfico”, que consiste fundamentalmente na imitação da realidade. No aniversário dos dez anos dos emojis da Apple, Angela contou que, inicialmente, aproveitou o desenho do cocó para o topo do desenho do gelado. Outra das curiosidades prende-se com o significado do cocó, pois este é um dos símbolos que quer dizer coisas diferentes conforme a cultura de cada país: enquanto no Ocidente, Portugal incluído, ele é utilizado para mostrar desagrado e reprovação, no Japão transmite votos de “boa sorte”.

 

Texto: Dina Margato