A TAP e os aviões. Que empresa é esta?

Companhia aérea portuguesa nasceu com capitais públicos, foi privatizada, depois nacionalizada, agora fala-se novamente em privatização. Reestruturações sucessivas, prejuízos avultados, polémicas quentes. O que está em jogo? A sua sobrevivência.

 

TAP Air Portugal, Transportes Aéreos Portugueses. A companhia foi criada em março de 1945 por ordem de Humberto Delgado, na altura, diretor do Secretariado da Aeronáutica Civil. Compraram-se os primeiros aviões, abriu-se a primeira linha comercial entre Lisboa e Madrid. Uma empresa estratégica para o país. Com as cores da bandeira portuguesa, voa para mais de 90 destinos em todo o Mundo e traz milhares e milhares de turistas. A sua história, porém, tem altos e baixos, o futuro é incerto, a gestão continua a fazer capas de jornais e a ser comentada na televisão.

 

Privatizar, nacionalizar, reestruturar

 

A TAP passou muitos anos exclusivamente nas mãos do Estado, nacionalizada, controlo absoluto do Governo. Com a chegada da troika, anuncia-se a sua privatização, ou seja, a entrada de privados na gestão. António Costa é eleito primeiro-ministro em 2015 e não tarda a vincar a vontade de o Estado voltar a ter a maioria do capital da TAP. O desejo concretiza-se. Entretanto, com prejuízos avultados (mais de 109 milhões de euros no fecho de 2019 e 395 milhões no primeiro trimestre de 2020 por causa da covid-19), uma pandemia que deixa os aviões em terra, avança-se para um plano de reestruturação que implica menos gastos e despedimentos de trabalhadores (no início de 2020, a TAP tinha 9143 funcionários, em meados de 2021 eram cerca de 6800) e é pedida ajuda à Comissão Europeia. A partir de 2020, o cenário de privatização da TAP começa a pairar no horizonte com o Governo a referir que essa poderá ser a “única maneira” de assegurar a viabilidade da empresa.

 

Os BMW, os prémios, e a secretária de Estado

 

Os prejuízos da companhia aérea são enormes, um peso tremendo para o país – embora já se comece a falar em boas notícias neste capítulo. Seja como for, a empresa tem estado enredada em polémicas. Prémios oferecidos aos executivos, apesar das dívidas avultadas. A encomenda de dezenas de carros BMW para administradores executivos e diretores de topo. O anúncio da renovação da frota caiu mal na opinião pública e a ideia é abandonada. A fechar 2022, a polémica da indemnização de meio milhão de euros com contornos pouco claros. Um caso que levou à demissão da secretária de Estado do Tesouro, que recebeu a indemnização, e do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que tutelava o setor. João Galamba é agora o ministro responsável pela pasta.

 

As greves e a insatisfação

 

A 8 e 9 de dezembro do ano passado, os tripulantes da TAP fizeram greve e foram previamente cancelados 360 voos. A possibilidade de uma nova greve de cinco dias até ao fim deste mês de janeiro está agora em cima da mesa. Motivos? Cortes nos salários, flexibilização de horários, insatisfação com o novo acordo da empresa, atos de gestão considerados “questionáveis”. O descontentamento do pessoal de voo é evidente.

 

3,2 mil milhões de euros

 

É esta a quantia total que o Estado vai injetar na TAP. Falta uma última tranche de 980 milhões de euros, aprovada na última semana de 2022, prevista no Orçamento do Estado e no acordo assumido com a Comissão Europeia há cerca de um ano.

 

Texto: Sara Dias Oliveira