Nasceu na Escócia, através da fertilização in vitro, os seus genes foram modificados para emitir menos gases com efeito de estufa. Um bovino, dois passos gigantes: um para o reino animal, outro para o bem-estar dos seres humanos.
“Cool cows”, vacas fixes, o projeto de que se fala
A notícia é fresquinha e tem dado muito que falar: nasceu uma vaca geneticamente modificada para melhorar o ambiente. Mas este trabalho não é de agora. Há mais de 50 anos que um grupo de cientistas anda de olho num rebanho escocês, o rebanho Langhill, em Dumfries. Inicialmente, a ideia era melhorar a saúde e a reprodução desses animais em toda a Escócia. Depois, o objetivo passou a ser outro, ou seja, diminuir a emissão de gases com efeito de estufa. E assim surgiu “Cool cows”, o projeto ecológico escocês que, através do processo de fertilização in vitro, deu vida a uma vaca, batizada de Hilda, concebida para combater as alterações climáticas.
Criada e nascida em laboratório
Como nasceu a vaca Hilda? A ciência tem ferramentas inacreditáveis. Os óvulos da mãe foram fertilizados em laboratório, sofreram mutações genéticas, tudo feito direitinho e devidamente controlado para criar um animal, recorrendo a fertilização in vitro, diferente de todos os outros, mais amigo do ambiente. Hilda é a primeira vaca a sofrer esta mutação, um passo histórico que pode revolucionar a emissão de gases por parte do gado bovino e a sua própria reprodução.
Uma nova geração de animais?
Por fora, Hilda é uma vaca igual às outras. Por dentro, geneticamente modificada, o que representa um novo paradigma na genética no mundo animal, até porque a técnica de reprodução in vitro poderá ser replicada. Cientistas envolvidos no projeto acreditam que poderá ser realizada em animais com seis meses de idade, o que permite reduzir o intervalo entre gerações, já que as vacas, normalmente, só conseguem reproduzir-se ao fim do segundo ano de vida. Esta nova abordagem reduz o tempo para metade na reprodução de animais mais eficientes e menos poluidores.
Metano, esse perigoso poluente
O metano é um dos gases de efeito estufa, substâncias altamente prejudiciais para a saúde humana, na mira da ciência. O projeto escocês quer reduzir esse poluente perigoso do ar, um dos mais potentes à face da Terra, produzido em grandes quantidades, que contribui para a formação de ozono no solo e que faz mal aos pulmões. É habitualmente apontado como causador de um milhão de mortes prematuras todos os anos.
Os arrotos das vacas são um problema
Porquê uma vaca? Porquê Hilda? Há uma explicação. A pecuária é responsável por cerca de metade das emissões de metano e esse gás é produzido por micróbios que vivem no estômago das vacas, é da sua natureza, da sua genética. E o metano, como explicado, não é bom para o meio ambiente, degrada a camada de ozono. Por isso, um arroto de uma vaca, o que sai da sua boca, tem gases não recomendáveis. Para teres noção, no nosso país, cerca de 43% do metano emitido para a atmosfera provém da agropecuária e são as vacas que mais o emitem. A Hilda nasceu para contrariar esses efeitos nocivos e para termos gado que produza menos metano mais rapidamente. Cientificamente falando, acelerar o processo de seleção e criar animais mais eficientes em metano.
Com o aumento contínuo do consumo de produtos lácteos a nível mundial, a criação de gado sustentável é extremamente importante. O nascimento de Hilda é, potencialmente, um momento extremamente significativo para o setor leiteiro do Reino Unido”
Texto: Sara Dias Oliveira