Com as novas regras nos bares dos estabelecimentos de ensino, as famílias podem aproveitar a boleia e levar a ideia para as lancheiras. Mas há que ter conta, peso e medida: as batatas fritas e os bolos não têm que desaparecer.
As sandes de chouriço, as pizas e os hambúrgueres foram banidos dos bares das escolas, a par dos croissants, das batatas fritas, dos bolos ou dos refrigerantes. E as máquinas de venda automática também não vão ser alternativa. Na hora de voltar às aulas, os pais podem aproveitar a boleia do recente despacho do Governo. Mandar lanches saudáveis nas marmitas e convencer os miúdos a mudar hábitos pode não ser tarefa fácil, mas não é impossível.
Num país que cresce a olhos vistos nos números da obesidade infantil, os nutricionistas sorriem para a medida e alertam que não se trata de abolir a asneira da alimentação dos mais pequenos, trata-se, sim, de a eliminar do sítio onde passam mais tempo. “Estes não são alimentos pecaminosos, mas são alimentos que têm gorduras, sal, açúcares, que devem ser consumidos de forma bastante pontual.” Em vez da rotina, devem ser a exceção. Mas a nutricionista Lilian Barros reconhece que mudar o chip das crianças e jovens pode levar tempo e adaptação.
“Agora, as crianças vão sentir falta, estes alimentos sabem-nos bem, por isso é que os comemos. Nesta fase inicial, até pode haver uma minirrevolta, por saudades de sabores mais intensos, mas eles não têm que deixar de existir.” Ou seja, no dia a dia na escola há que trocar os croissants pelo pão ou os refrigerantes por sumos de fruta naturais, mas em casa, aos fins de semana ou em dias especiais, podem continuar a existir. “Ao fim de semana sei que se der um croissant ao meu filho, vai ser só naquele dia e que ele não comeu croissants todos os dias na escola. Esta medida dá mais margem aos pais.”
Preparar com antecedência
Dedicar tempo no fim de semana a organizar os lanches dos miúdos parece, aliás, ser a fórmula para não descambar durante a semana. “Há dez anos era impossível pensarmos que alguns alimentos estariam em casa dos portugueses, mas cada vez mais opções saudáveis entram na lista de compras”, comenta Lilian. E os pais só têm que seguir o mesmo caminho na hora de preparar as marmitas.
Para os mais pequenos, esconder vegetais num sumo de frutas feito em casa e “chamar-lhe o sumo do Hulk ou do dinossauro é uma forma de trazer alegria aos alimentos que podem parecer mais aborrecidos”. Mas a vida é acelerada e nem sempre há tempo para preparar de antemão. Nesse caso, os supermercados já contam com muita oferta. “Nomeadamente nos sumos sem conservantes e adição de açúcares. Os pais não têm de comprar necessariamente produtos rotulados de infantis, com a bonecada toda, porque muitos desses têm adição de açúcar.”
Juntar pequenos mimos
E se ouvir falar em lanches saudáveis dispara o alarme de receitas muito elaboradas nas famílias, a também nutricionista Iolanda Rodrigues descomplica. “Iogurte, pão, fruta, queijinhos. Não precisa de ser nada complicado. E de vez em quando uma surpresa, umas bolachas, um docinho.” Se os pais tiverem tempo, podem fazer panquecas em casa, mas à falta dele é preciso simplificar. E sobretudo variar. “Não temos que beber o mesmo iogurte todos os dias. E podemos ser criativos no pão com formas engraçadas ou nas cores da fruta.”
A especialista em psicologia da educação, Judite Pinheiro, concorda e até dá dicas para poupar tempo. “Ao sábado ou domingo, comprar pão fresco, fazer sandes com aquilo que as crianças gostarem para cada dia da semana e congelar. Depois, todos os dias tiram uma. Sempre é preferível do que o pão de forma altamente calórico e químico ou os panikes embalados.” A psicóloga, que trabalha em escolas, sabe que muitas vezes as opções menos saudáveis vêm de casa e assume que preparar lanches equilibrados implica a organização da família. “Claro que é mais prático comprar tudo já embalado e em unidose. Mas fazer uma gelatina em casa demora dez minutos e um pacote dá para toda a semana. Até é mais económico.”
Não é fundamentalista, também é apologista de um dia familiar da asneira. E é nesse equilíbrio que está o segredo. “Acho até que se deve dar às crianças algum miminho, num dia mandar dois quadrados de chocolate junto ao pão. Um lanche saudável não tem que ser desagradável, mas isso também não significa que os iogurtes tenham que ser todos os dias com pintarolas.”
E a psicóloga lança truques para travar a resistência dos miúdos, que podem passar por atividades como workshops de culinária para crianças ou por tentar seguir uma receita do YouTube em família, para os sensibilizar para o tema. Uma coisa é certa: entre as opções mais saudáveis na lancheira, os mimos a meio da semana e o dia da asneira em casa, descomplicar e organizar são as palavras de ordem.
O que levar na lancheira
Para comer:
Fruta fresca cortada (pôr gotas de limão ajuda a não oxidar)
Boiões 100% fruta
Vegetais crus: palitos de cenoura ou tomates cherry
Iogurtes naturais
Queijos individuais
Pão fresco com manteiga de amendoim, compota, queijo ou fiambre
Panquecas feitas em casa com farinha de aveia e banana
Papas de aveia
Gelatina
Dois quadrados de chocolate preto ou de leite
Para beber:
Água
Leites de pacote sem açúcares adicionados
Batidos de fruta e leite, de fruta e iogurte ou de fruta e bebida vegetal
Sumos de fruta caseiros com vegetais escondidos
Sumos de fruta sem adição de açúcares embalados
Ice Tea feito em casa
Iogurtes líquidos
Texto: Catarina Silva